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45.Manifesto da Praia incitando o povo às armas. Recife (1848)

Manifesto da Praia incitando o povo às armas. Recife (1848)


1848



Manifesto da Praia incitando o povo às armas - íntegra. Recife, 1848 A Revolução Praieira foi a última e a mais radical sublevação ocorrida no Império contra o poder central. Não é de espantar que tenha ocorrido em Pernambuco, onde era fortíssima a tradição de participação popular - primeiro, na guerra contra os holandeses; depois na revolução liberal de 1817; por fim, na Confederação do Equador. O movimento foi liderado pela ala mais avançada do partido liberal ou Partido da Praia, numa referência à rua da Praia, onde era impresso seu jornal. Eclodiu quando o governo local foi mais uma vez entregue pelo gabinete do Império aos conservadores, ou guabirus, ligados aos grandes proprietários rurais. Tentando retomar o controle político da província, os praieiros apelaram à população pobre, conclamado-a a resistir aos guabirus e aos “marinheiros”, como eram chamados os comerciantes portugueses na época. Várias cidades pernambucanas caíram nas mãos dos revoltosos, inclusive Recife, por um curto espaço de tempo. Mas o movimento acabou dominado e seu chefe militar, Pedro Ivo, o “Capitão da Praia”, preso. “Pernambucanos! Um aluvião de fatos horrorosos nos obriga a colocar nos á frente do povo armado para reivindicarmos os foros de homens livres, que a estúpida prepotência do Presidente Penna(*) acaba de aniquilar; já não temos garantias constitucionais; um sem número de prisões arbitrárias estão-se fazendo diariamente sem as formalidades da lei; somos ameaçados em nossas pessoas pelo punhal e pelo bacamarte dos sicários que o Presidente Penna pagou pelo Tesouro público. Pernambucanos! Chegou o momento de salvar os brios de nossa província; corramos, pois, às armas e mostremos ao Brasil que ainda somos os mesmos homens de todas as épocas, durante três séculos da nossa existência Salvemos Pernambuco da ignominia de uma conquista tanto mais ignóbil e aviltante quanto tem por objeto dar ganho aos portugueses. Concidadãos! Nada temos a esperar do Rio de Janeiro; o governo, para conquistar Pernambuco, pretende entregar o Rio Grande do Sul ao estrangeiro, que já tem invadido o seu território; em sua ira tem esgotado contra nós todas as forças do Império, e não contente com as infâmias praticadas pelo Presidente Herculano Ferreira Penna, que ainda achou pouco sanguinário, mandou para substitui-lo o Desembargador Manuel Vieira Tosta, homem de coração feroz, nosso inimigo figadal, e todo dedicado à causa dos portugueses. Compatriotas! Esta atualidade nos mata; 26 anos de experiência bastam para provar-nos que as nossas instituições são impotentes para fazerem a felicidade do povo; cumpre pois que obtenhamos as reformas que todas as províncias reclamam; que o povo tenha garantias; que os brasileiros gozem do fruto do seu trabalho; que desapareça de uma vez para sempre essa terrível centralização, que nos cresta, que nos mina, que nos aniquila, devorando a substância nacional; - cumpre regenerar-nos. Amigos! O lugar onde estivermos será o ponto de reunião; ai irão ter todos os homens livres da província, todos os pernambucanos honrados, dignos deste nome. Dai marcharemos sobre os diferentes pontos ocupados pelas hordas do presidente até libertarmos esta capital, testemunha das infâmias da quadrilha luso-guabiru e vitima de suas atrocidades! Pernambucanos! As armas, e salvemos a nossa bela província das garras dessa infame quadrilha. Todo o Brasil tem os olhos sobre Pernambuco; a sorte deste vasto Império depende hoje dos nossos esforços e da nossa valentia. Desgraçado daquele que, por medo ou traição, vender liberdade da sua Pátria a troco de uma infâmia: a sua memória será execrada como a dos parricidas. Homens livres! Não vos faremos a injúria de acreditar que vacileis um só momento na escolha de um partido: entre a vida e a morte, entre a liberdade e a escravidão, entre o brio e a pusilanimidade, entre a honra e a infâmia, não há escolha; ás armas, mil vezes às armas, e corramos a vingar a nossa nacionalidade ultrajada, os nossos foros abalados e a independência do Brasil ameaçada pelos portugueses. Pernambucanos! Já que depositastes em nós a vossa confiança, já que somos os vossos escolhidos, não burlaremos as vossas esperanças, e morreremos convosco no campo de batalha. Um esforço e basta; os nossos inimigos são impotentes para resistir-nos, se quisermos provar-lhes a nossa superioridade. Amigos! A honra vos chama para a lide travada entre o Pais e os seus opressores; salvemos a nossa querida Pátria, ou pereceremos todos cobertos de ignomínia. Joaquim Nunes Machado - Antônio Afonso Ferreira – Dr. Jerônimo Vilela de Castro Tavares - Dr. Felipe Lopes Neto - José Francisco de Arruda Câmara - Antônio da Costa Rego Monteiro - Dr. Joaquim Francisco de Farias - Félix Peixoto de Brito e Melo. (*) Referência a Herculano Pena, conservador, nomeado pouco antes presidente da província de Pernambuco.

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