Militares dão ultimato a Washington Luiz (1930)
24/10/1930
No dia 24 de outubro de 1930, quando as tropas revolucionárias de Getúlio Vargas já convergiam sobre a cidade de São Paulo, na Batalha de Itararé - famosa porque, embora anunciadíssima, nunca aconteceu de fato, um grupo de oficiais superiores, liderados pelo general Mena Barreto, sublevou-se no Rio de Janeiro. Depois de assumirem o controle dos principais quartéis da capital da República, exigiram a renúncia do presidente Washington Luiz. Era o golpe final na República Velha. Naquele momento, a região Sul, o estado de Minas Gerais e a maior parte do Nordeste já haviam caído nas mãos do movimento deflagrado três semanas antes, a 3 de outubro.
Washington Luiz, porém, recusou-se a deixar o governo. Teve de ser deposto e preso. Ato contínuo, os generais formaram uma junta governativa provisória, cujos objetivos nunca ficaram muito claros. Para alguns, ela pretendia manter-se no poder, roubando com mão de gato a vitória de Vargas. Para outros, ela buscava apenas uma solução negociada com as tropas vindas do Sul, evitando mais derramamento de sangue. Na dúvida, Vargas ordenou a seus soldados que avançassem sobre o Rio. Foi o bastante. Em 28 de outubro, a junta anunciou ao país sua intenção de transmitir o poder a Vargas, que entrou no Rio, em meio a uma grande manifestação popular. A foto dos soldados gaúchos amarrando seus cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco, em frente ao Palácio Monroe, onde funcionava o Congresso, correu o país anunciando o fim da República Velha.
Leia abaixo a íntegra do ultimato dado a Washington Luiz:
Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1930.
“Exmo Sr. Presidente da República,
A Nação em armas, de norte a sul, irmãos contra irmãos, pais contra filhos, já retalhada, ensangüentada, anseia por um sinal que faça cessar a luta inglória, que faça voltar a paz aos espíritos, que derive para uma benéfica reconstrução urgente as energias desencadeadas para a entredestruição.
As Forças Armadas, permanentes e improvisadas, têm sido manejadas como argumento único para resolver o problema político, e só têm conseguido causar e sofrer feridas, luto e ruínas; e descontentamento nacional sempre subsiste e cresce, porque o vencido não pode convencer-se de que quem teve mais força tinha mais razão; o mesmo resultado reproduzir-se-á como desfecho da guerra civil atual, a mais vultosa que já se viu no País.
A salvação pública, a integridade da nação, o decoro do Brasil e até mesmo a glória de V. Exa instam, urgem e imperiosamente comandam a V. Exa que entregue os destinos do Brasil do atual momento aos seus generais de terra e mar.
Tem V. Exa o prazo de meia hora a contar do recebimento desta para comunicar ao portador a sua resolução, e, sendo favorável, como toda a Nação livre o deseja e espera, deixará o poder com todas as honras e garantias.
João de Deus Mena Barreto, General-de-Divisão, Inspetor do 1o Grupo de Regiões - José Fernandes Leite de Castro, General-de-Brigada, Com. do 1o DAC - Firmino Antônio Borba, General-de-Brigada, 2o Subchefe do EME - Pantaleão Teles Ferreira, General-de-Brigada.
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