Renúncia de Jânio. Íntegra do manifesto (1961)
25/08/1961
Sete meses depois de empossado, Jânio tenta uma manobra de alto risco para livrar-se da oposição e reforçar seus poderes: aproveitando-se de que o vice-presidente João Goulart estava ausente do país, numa viagem à China, e apostando que os chefes militares não aceitariam ver Jango no Palácio do Planalto, Jânio renuncia à Presidência da República. Jogava no impasse, na crise e numa volta nos braços do povo _ e nos ombros das Forças Armadas. Mas o tiro saiu pela culatra. Sem apoio do PTB, do PSD e da esquerda, que derrotara nas urnas, e da UDN, que humilhara no poder, Jânio foi rapidamente ultrapassado pelos acontecimentos. A renúncia foi aceita em questão de horas. O problema passou a ser sua sucessão. Nas semanas seguintes, o país chegaria à beira da guerra civil.
O MANIFESTO
“Fui vencido pela reação e assim deixo o Governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta Nação pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito seu generoso povo.
Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa da colaboração.
Se permanecesse, não manteria confiança e tranqüilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.
Encerro assim com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.
Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do Governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios para todos e de todos para cada um.
Somente assim seremos dignos deste País e do mundo. Somente assim seremos dignos da nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir esta Pátria.
Brasília, 25 de agosto de 1961.”
Jânio Quadros
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