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23.Cor de rosa


Segunda-feira, B de julho ale 1996

FRANKLIN MARTINS


do Brasília

Cor de rosa

• lima onda de otimismo voltou a percorrer o Palácio do Planalto e adjacéncias nas duas últimas semanas, Asses-sores próximos do presidente acham que o Governo conseguiu superar o baixo-astral em que mergulhou a partir de maio, quando saíram as primeiras pesquisas apontando queda nos índices de popularidade de Fer-nando Henrique e ficou evidente que as reformas tinham empacado no Congresso. Justifica-se esse otimismo?

Não há dúvida de que a sor-te voltou a sorrir para o presa dente. Se o pais não tivesse si-do invadido por 158 milhões de detetives, cada um com uma teoria mais rocambolesca sobre a morte de PC Farias e todos de olhos fechados para qualquer coisa que não seja o crime de Guaxuma, certamen-te o Governo estaria debaixo de pau puro para explicar por que, às vésperas das eleições, liberou verbas para viabilizar convénios com prefeituras co-mandadas por políticos gover-nistas e cortou aquelas que poderiam irrigar o eleitorado de candidatos oposicionistas. As denúncias vieram a pú-blico há uma semana e até ago-ra o Governo não se deu ao tra-balho de responda-las. Bendi-to PC1 Graças a ele, Fernando Henrique poderá continuar di-zendo, sem se ruborizar, para seus interlocutores menos avi-sados que o Governo gomo-veu uma revolução silenciosa nos mecanismos de distribui-ção das verbas federais, termi-nando com a era do apadrinha-mento, do eleitoralismo e do favor ecímento político. O deputado tucano B. de Sã conseguiu a liberação de R$ 4.815.000 para obras de sanea, meato em Oeiras, município que controla politicamente. Raspou o tacho dos recursos da Fundo Nacional de Saúde no Piauí, coincidentemente rigida por um protegido seu. Para o resto do estado, sobra-ram menos de R$ 70 mil. Atido Neves, tucano mineiro, como sub-relator da Comissão de Or-çamento, conseguiu a aprova-ção e, agora, a liberação de mais de R$ 12 milhões para obras de saneamento em Mi-nas O governador tucano Eduardo Azeredo destinou-as a municípios controlados pelo partido, como Coatagem e Juiz de Fora. Londrina, principal município do Paraná, é gover-isadu pela PT, mas cobiçado pelo deputado do PSDB Luís Carlos Hauly. Vai receber mais de R$ 1 milhão para gostar em obras urbanas, mas o padri-nho não será o prefeito. Hauly já disse que vai faturar poluta eamente a liberação. O senador António Carlos Magalhães está tiririca com o Ministério do Planejamento, que resolveu contemplar com verbas para saneamento o pe-queno município de Lauro de Freitas, onde os tucanos dão as cartas, e esqueceu as cida-des vizinhas sob tomando ?c-iclista. Além de se queixar ao bispo, ACM deveria pedir aseu correligionário Inocência, de Oliveira que lhe ensinasse o caminho das pedras, Inocén-cio obteve a liberação de re-cursos para todas as 16 emen-das que apresentou na área de saneamento. E candidato a um recorde era Atlanta. As prefeituras do PSDB do interior de São Paulo também não tem do que se queixar, sa• vo as de Aval, Cabrália Paulista e Cafelandia., que duram o azar de ser apadrinhadas pelo de-putado Tuga Angerami, una tu-cano que vive votando contra o Governo e, agora, recebeu o troco. lima lista de deputados

governistas infiéis, preparada pelo Palácio do Planalto, está sendo usada como borduria para esmagar os pleitos de quem andou ciscando para fo-ra, O que isso tem a ver com a modernidade? Não se sabe. O que se sabe é que, como nin-guém discute mais nada que não seja o caso PC, é provável que o Governo consiga passar incólume por essa trapalha-da. Mas não é só por isso que uma lufada de otimismo per-corre o Planalto nas últimos dias. O presidente está muito animado com os recentes índi-ces econamicos. A expectativa é de que o segundo semestre seja bem melhor do que o pri-meiro: mais vendas e produ-ção, recuperação do emprego, manutenção da moeda está-vel, tranqüilidade na frente cambial. Um importante asses-sor de Fernando Henrique, ge-ralmente comedido em suas manifestações, exultava há poucos dias. Segundo ele, nas previsões do núcleo do Gover-no, 1996 seria o ano mais de-licado e perigoso do processo de estabilização da economia. Acabou não sendo tão ruim as-sim, dizia o assessor, aliviado, completando que, depois de um tranco dramático, a econo-mia voltou a correr sobre os trilhos e aponta para um perío-do ascendente. O sentimento do presidente é de que o Brasil é a bola da vez, a mala promis-sora e coriftável nova fronteira a atrair os capitais lateraacio-nais. A política também está sen-do vista pelo Governo através de lentes cor-de-rosa. O Pala-cio do Planalto foi agradavel-mente surpreendido pelo esta-do de espírito dos parlamenta-res que estão em campanha eleitoral. Eles dizem que está mais fácil defender o Governo do que pensavam. O eleitor pode ter suas insatisfações, mas não estaria em pé de guer-ra com o Governo. O presiden-te queue continuaria sendo um grande cabo eleitoral. O Planalto começa a sonhar com uma vitória em outubro, com repeteco em novembro. Para completar, no terreno parlamentar, os líderes gover-nistas acham que têm motivos para acreditar que o pesadelo acabou, por duas razões: a) na Câmara, a mudança do regi-mento interno, ao eliminar a profusão de Destaques para Votação em Separado — cada um exige os votos de 308 depu-tados governistas para manter • o texto destacado — agilizará as reformas constitucionais; b) a mais delicada de todas as reformas, a da Previdência, chegará em agosto no Senado, onde a sólida maioria gover-nista deverá refazer o projeto original, para devolvê-lo, de-pois das eleições parlamenta-res, à Câmara, que, já sem a ca.• misa-de-força dos DVS, pode-ria SA.CraMeniar as mudanças. É o que pensa o núcleo do Governo: rosa que te quero ro-sa. Se isso corresponde à ver-dade, só o tempo dirá, Não precisaremos esperar multo. Nada como uma boa eleição para botar o preto no branco.


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