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22.Teorias do presidente

Segunda-feira, 8 de ebnl de 1996

FRANKLIN MARTINS


da Braília

Teorias do presidente

e Duas questões políticas estão incomodando o presi-dente Fernando Henrique Cardoso hoje: as acusações de que ele teria cedido às pressões do fisiologismo e do clientelismo na votação das reformas e as criticas de que o Governo estaria sendo complacente com os res-pensáveis por crimes de colarinho branco. Uma terceira questão também ronda a cabeça do presidenteFernando Henrique: a reeleição.

Mas ele garante que esta não o preocupa de imediato. Acredite quem quiser. O des-conforto que as duas primei. ras acusações estão provocan-do em Fernando Henrique tem a ver com sua origem de es-querda e com sua formação in-telectual. O presidente, ao lon-go de toda a sua carreira aca-dêmica e política, combateu frontalmente a política do to-ma-lá-dá-cá e da troca de votos por obras e, inúmeras vezes, quando estouraram escânda-los financeiros, pediu a prisão dos culpados. Nesses assun-tos, acostumou-se a ser estilin-gue. Hoje é vidraça. Pode-se dizer que, também em outros campos, Fernando Henrique d istanc iou-se, nos úl-timos anos, de pontos de vista que pregara anteriormente. Não foi ele, por exemple, um dos principais artífices da Constituição que agora luta com unhas e dentes para refor-mar? Mas, nesse caso, sente-se à vontade. Julga que tem argu-mentos sólidos não só para desmontar seus críticos como para jogá-los na defensiva. Tem a sua teoria. Se ele mudou, é porque o mundo mudou. Errada estaria a esquerda, aferrada a idéias fi-xas do passado, que se revela-ram incapazes de interpretar e influenciar a nova realidade. Em linhas gerais, a teoria do presidente é que o Estado bra-sileiro está em crise, sendo sua reforma indispensável pa-ra a retomada de um novo c€-rio de crescimento, sem o que é impossível gerar empregos e resgatar a imensa dívida social do país. Contra a reforma do Estado, argumenta o presidente, esta-riam se levantando os interes-ses corporativos que tiram proveito do atual estado de coisas. Seriam resistências egoístas que devem ser que-bradas, em benefício da coleti-vidade. Quanto à globalização, sus-tenta o presidente, ela é inevi-tável e vai abrir no mundo uma impressionante era de realiza-ções e transformações, que volta e meia ele chame de no-vo Renascimento. Qual será o lugar do Brasil ao fim desse processo? Depen-derá da estratégia a ser adota-do. O presidente acha que o Brasil poderá se credenciar como um dos dez ou 12 países mais importantes do mundo. Daí sua ênfase nas viagens in-ternacionais, a luta para atrair maciços investimentos cetras-Firas, o esforço para conquis-tar um lugar no Conselho de Segurança da ONU, a impor-tencia da modernização da economia e a prioridade para a educação. Para muitos, tudo isso pode ser discutível, mas não para Fernando Henrique Cardoso. Suas formulações teóricas dão-lhe segurança sobre o ru-mo &seguir e sobre cada passo e dar. Para um intelectual co-mo o presidente, Isso é indis-p enseVel, Ele não se sente bem reagindo intuitivamente sus

acontecimentos. Por isso o Incomodam tanto as criticas de que sucumbiu ao clientelismo e ao fisiologismo e de que não tem sido rigoroso contra os criminosos de cola-rinho branco. Nesses dots as-pectos, ele não dispõe de uma teoria consistente que lhe per-mita rebater as acusações. Ou melhor, não dispõe ainda. Fole, no caso da falta de cadeia para os que traficam influencia ou fraudam milhões, ele já está produzindo uma: a teoria do fundarnentalismo político. A diversos interlocutores, o presidente disse, nos últimos dias, que a opinião pública no Brasil hoje parece não enten-der a necessidade de mecanis-mos legais para apurar respon-sabilidades e punir culpados. Se esses mecanismos são lentos ou pouco eficazes, cabe mudá-los. O que não se pode fazer é desconhecê-los, diz Fernando Henrique, e partir para o linchamento, só porque se está agindo em nome de uma boa causa. É esse com-portamento que o presidente classifica de fundameritalis mo político. Para ele, essa atitude tem a ver com a sucessão de eseen. &los como os do Governo Collor e da Comissão de Orça-mento da Meara. Embora o quadro hoje seja outro, a sede desanque perma-neceria a mesma. Segundo Fer-nando Henrique, em episódios como Sivam-grampo, pasta ro-sa, Banco Econômico e Banco nacional, as autoridades toma-ram as providências cabíveis, seja estabelecendo sindicân-cias, seja pedindo a abertura de processos contra os res-ponsáveis pelos crimes. Mas, aos olhos da opinião pública envenenada pelo fun-darrientalismo, isso pareceu pouco. Apesar disso, Fernan-do Henrique diz que não mu-dará de comportamento. Pre-fere sofrer desgastes a seguir a maré. Mas não esconde sua ir-ritação com a oposição e com a imprensa, clue, segunda ele, estariam coqueleanclo irres-ponsavelmente com essa sen-timento nocivo para a demo-crede. E em relação às concessões feitas pelo Governo ao fisiolo-gismo e ao clientelismo? Nesse caso, o presidente não tem teorias. Diz que tampouco tem culpas a expiar. Carente que não cedeu a pressões. Como a Governo virou, então, tantos votos entre a primeira -e a se-guncia votação da reforma da Previdência? Fernando Henri-que explica que eliminando o excesso de confiança. Na pri-ajeita votação, os líderes te-riare dito ao presidente que a situação estava tranqüila e eia sequer entrou em campo. Deu no que deu, Na segunda nota-ção, cabalou votos e mudou a jogo. Fernando Henrique ga-rante que não meteu o pé na ia-ma e que não vai meter, No Congresso, a opinião outra. Muita gente não descai, ça mais as chuteiras de trava alia,



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