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15.Grande vitória, Grandes problemas

Grande vitória, Grandes problemas


12.06.1998



O fato de que Fernando Henrique tenha sido eleito no primeiro turno com aproximadamente 53% dos votos, derrotando Lula por folgada margem, pode dar a impressão de que a eleição presidencial deste ano foi apenas um repeteco da anterior. Afinal, em 1994, o presidente também venceu no primeiro turno, bateu o mesmo adversário e obteve um percentual dos votos válidos quase idêntico ao deste ano: 54,3%. Cessam aí, entretanto, as semelhanças entre os dois pleitos. Há quatro anos, Fernando Henrique chegou ao Palácio do Planalto montado numa extraordinária onda de entusiasmo popular, como poucas vezes se viu na História deste país. Tanto que, tendo sido eleito com base numa aliança do PSDB e do PFL, em três tempos atraiu o apoio do PMDB e do PPB, que haviam lançado candidatos próprios na corrida presidencial, e constituiu uma ampla maioria parlamentar. Ancorado na força do Real e na benção das urnas, durante um ano aprovou o que quis e bem entendeu no Congresso, governando praticamente sem oposição. O PT e seus aliados encontravam-se desnorteados, sem discurso e sem pegada. Agora, entretanto, o quadro é muito diferente. O otimismo de quatro anos atrás deu lugar à incerteza, o Real mostrou-se mais frágil do que parecia, e ficou claro que o caminho que leva à prosperidade está infestado de perigos. O mundo, decididamente, deixou de ser cor-de-rosa. Além disso, em termos políticos, Fernando Henrique tende a enfrentar tensões internas na coalizão governista e terá pela frente uma oposição que recuperou a alegria de viver. Não é para menos: ela esperava ser massacrada nas urnas e saiu-se com um resultado bastante razoável. Lula obteve 32 % dos votos válidos, contra 27%, em 1994, ampliando o eleitorado das esquerdas. Já Ciro Gomes, que veio do nada em termos de máquina partidária, recursos financeiros e tempo na televisão, teve um belo desempenho. Firmou-se como o preferido de 11% dos eleitores, o que o credencia a liderar uma nova vertente de centro-esquerda no cenário político. Tudo somado, os adversários de Fernando Henrique vão entrar cheios de gás em 1999, justamente quando serão mais pesados os sacrifícios que o governo terá de pedir à população. O presidente, porém, tem bons trunfos na manga para enfrentar essa nova situação política, bem mais complexa que a anterior. O mais importante deles é que o eleitor reafirmou claramente que, apesar dos pesares, das dúvidas e das incertezas, não abre mão da estabilidade conquistada com o Real e acredita que Fernando Henrique, mais do que ninguém, tem as qualidades necessárias para defendê-la. Foi isso que deu ao presidente a vitória no primeiro turno. Desconfiança Já o que levou ao crescimento da oposição nas urnas foi a desconfiança de boa parte do eleitorado de que o preço da estabilidade monetária - ao menos, no caminho tomado pelo governo - é o agravamento da questão social. O modelo adotado teria uma lógica que subordinaria a geração de empregos, a reforma agrária e avanços substanciais nas áreas da saúde e da educação aos interesses do mercado financeiro. Em cada dez eleitores, há mais de quatro precisando ser convencidos de que isso não é verdade. Não é pouca coisa. Empate Nas cidades grandes e médias, aquelas que pesam decisivamente na formação da opinião pública, a proporção de brasileiros com a pulga atrás da orelha revelou-se maior ainda: de cada dois eleitores, um votou na oposição, como deixaram claro os resultados eleitorais das urnas eletrônicas. Coube às urnas de lona, com os votos dos municípios menos populosos do interior, dar larga vantagem a Fernando Henrique e afastar definitivamente a hipótese do segundo turno. É um dado que o presidente terá de levar em conta. Época , 12/06/98

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