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14.Sinais de briga dentro do governo

Sinais de briga dentro do governo


25.07.1998



Através das páginas de “Época”, o presidente do Banco Central mandou, na semana passada, dois recados ao distinto público. Primeiro, não há recursos para investimentos na área social e a estabilização dos preços é o único caminho para resolver nossos problemas sociais. Segundo, se Fernando Henrique receber do povo um segundo mandato, não haverá mudanças na essência da política econômica. Em linhas gerais, ela continuará inalterada não só nos próximos quatro anos, mas também nas próximas quatro décadas. O resto, arrematou Franco, em tom de desafio ao pessoal que vem preparando a versão 98 do programa de governo de Fernando Henrique, é enganação. O Palácio do Planalto não gostou nem um pouco da entrevista, mas preferiu não alimentar um bate-boca que só causaria estragos à campanha do presidente. E como a oposição, para variar, comeu mosca e não soube explorar as desavenças na equipe de Fernando Henrique, o incidente não cresceu, sendo jogado na conta do temperamento irrequieto do presidente do Banco Central. Mas a divergência continua latente, pronta para reaparecer na primeira oportunidade. Mais do que um enfant térrible, Gustavo Franco é um ótimo cão farejador, que conhece todos os cheiros do poder e costuma pressentir o perigo muito antes de seus colegas de equipe econômica. Se mandou bala na equipe que prepara o programa de governo de Fernando Henrique, é porque percebeu que seu território está sendo invadido por estranhos. Franco não deixa de ter razão. Até maio, o governo tinha um discurso homogêneo: o importante era manter a estabilidade da moeda e ponto final; o pagamento da dívida social viria mais tarde, naturalmente, à medida em que a economia voltasse a crescer de forma sustentada. Em maio, porém, as pesquisas de opinião mostraram Lula aproximando-se perigosamente de Fernando Henrique. A partir daí, o estado de espírito do governo nunca mais foi o mesmo. O presidente, lembrando-se que é candidato à reeleição, passou a cortejar as ruas e a comover-se com os problemas das pessoas comuns. Em três tempos, o discurso da estabilidade monetária a qualquer preço foi suavizado, ganhando molho social, e começaram os movimentos para abrir as torneiras. Campanha eleitoral - especialmente quando se tem um adversário nos calcanhares - é fogo. Não há saco de maldades que fique de pé. Xerife zeloso, o presidente do BC sacou a arma e deu uns tiros de advertência para o alto: se a temporada de promessa eleitoral redundar numa fase de gastança governamental, o déficit público irá à lua e, em conseqüência, o real irá para o espaço. Antes disso, avisou, terão de passar por cima dele. O social não se rende Apesar do barulho feito pelo presidente do Banco Central, a vida continua. Tanto que, na última quarta-feira, a cúpula do comitê eleitoral de Fernando Henrique, rindo de uma orelha à outra, anunciou que, nos próximos 4 anos, os investimentos na área da saúde passarão de R$ 19 bilhões por ano para R$ 40 bilhões. O próprio presidente deu uma passadinha no comitê para deixar claro que seu programa econômico para um segundo mandato prevê estabilidade monetária - e olha o social aí, de novo - com desenvolvimento . Duelo ao entardecer Quem tende a se fortalecer na equipe de Fernando Henrique se a área social ganhar peso num segundo mandato do presidente? Quem é a estrela em ascensão na Esplanada dos Ministérios? José Serra. Em Brasília, até as pedras sabem que o ministro da Saúde e o presidente do BC, para usar um eufemismo, não se cruzam. Há muito tempo, Serra é um crítico feroz do fundamentalismo monetário. Pensando bem, talvez o xerife Gustavo Franco não tenha atirado para o alto. Neste entardecer de governo, há um cheiro de duelo no ar. Época, 25/07/1998

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