top of page

13.Eletricidade no ar, mudanças na terra

Eletricidade no ar, mudanças na terra


05.09.1998



A campanha presidencial que, nas últimas semanas, vinha se arrastando em tediosa monotonia, ganhou pilha nova. Dois fatores encarregaram-se de espalhar eletricidade pelo ar: a crise financeira internacional, que deixou à mostra as canelas de vidro do Real, e as últimas pesquisas de opinião, que registraram um pequeno crescimento de Lula e uma modesta queda de Fernando Henrique, voltando a colocar a hipótese do segundo turno no horizonte eleitoral. Em uma semana, o clima mudou. Para começar, o governo não conseguiu conter dentro das quatro paredes do palácio as divergências a respeito da melhor forma de enfrentar a crise. O ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, veio a público defender mudanças de rumo no modelo econômico. Rápido no gatilho, o senador Antônio Carlos Magalhães saiu imediatamente em socorro da equipe econômica, atirando em Mendonça de Barros. O xerife do Planalto, Clóvis Carvalho, adepto da linha soft, tentou botar panos quentes no assunto: o melhor que os dois tinham a fazer era calar a boca. Para que? ACM, com aquele estilo que Deus lhe deu e ele cultivou ao longo da vida, não pensou duas vezes: mandou Clóvis se recolher à sua insignificância - não foram essas as palavras textuais do senador, mas foi esse exatamente isso o que ele quis dizer. Esperava-se que o caldo entornasse no saloon da reeleição. Mas quem pode com o gogó de Fernando Henrique? Na quinta-feira, ele assegurou ao país que não há divergências dentro do governo. Para o presidente, Mendonça de Barros não disse nenhuma novidade. Apenas repetiu o que Malan já vinha afirmando há muito tempo: que o Brasil precisa diminuir sua dependência do capital externo. Onde e quando Malan disse isso antes? Não se sabe. Tampouco se sabe como a trombada entre Clóvis Carvalho e ACM pode ter contribuído para o ambiente de paz celestial do governo. Por mais que Fernando Henrique venda o peixe de que há um clima de harmonia na sua equipe, é evidente que ela está debaixo de fortíssima tensão. E nem poderia ser de outra forma: se for reeleito, o presidente terá de fazer uma inflexão profunda na política econômica. Afinal, o mundo mudou, os investidores estão mais pobres (ou menos ricos), e acabou-se a era do dinheiro fácil lá fora. Não há como seguir financiando por muito tempo os megadeficits em conta corrente dos últimos anos. Dólares deixaram de ser banana na feira, para usar a imagem cunhada no período de bonança por Gustavo Franco. No mínimo, o país precisa trocar o pneu do carro. Parece simples. O problema é que ninguém sabe como se faz isso a 100 km por hora - e em plena reta final de uma eleição presidencial. Nada de aventuras Lula vai bater na tecla de que mudar o pneu é pouco - o país precisa também trocar o piloto. Até que ponto esse discurso pode render votos? Ninguém sabe. No comitê de Fernando Henrique, o raciocínio predominante é o de que, se a tempestade chegar, a sociedade será cautelosamente conservadora: evitará o salto no escuro. O programa na TV tratará de passar a mensagem de que o presidente pode ter cometido seus erros, mas continua sendo o timoneiro mais competente para enfrentar a borrasca. O resto é aventura. Nada de cheque em branco Já no estado-maior de Lula acredita-se que uma parcela do eleitorado, ressabiada com a possibilidade de que o governo esteja dourando a pílula da crise e preparando medidas amargas para o dia seguinte da eleição, tratará de empurrar a decisão para o segundo turno, obrigando o presidente a mostrar todo o seu jogo. Seria uma espécie de voto útil, beneficiando tanto Lula quanto Ciro Gomes. Qual o tamanho desse eleitorado volátil? O PT estima-o entre 5% a 10%, o suficiente para levar a decisão para o segundo turno. Época, 5/09/1998

Posts recentes

Ver tudo

33.O vôo e os ruídos

31/07/1995 Franklin Martins O vôo e os ruídos Uma velha e triste can-ção mexicana constata-va, com espanto, que "hay muertos que no que ruído". Sempre me intrigaram esses versos. Afinal, nada mais nor

32.Governo esquisito

27/11/1995 Franklín Martins Governo esquisito O que está esperando o presidente da República para afastar de seu cargo a presidente do lucra, Fran-cisco Graziano, metido até o pescoço no episódio da e

31.No balé, com Luís Eduardo

25/12/1995 Franklin Martins No balé, com Luís Eduardo Qual o melhor presente que milhões de brasileiros po-deriam ter recebido na noite de Natal? Carros importa-dos, videogames, roupas de grife, CDs o

bottom of page