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06.O PFL bota roupa nova para a meia-estação

O PFL bota roupa nova para a meia-estação


27.02.1999



Há algo de novo no ar em Brasília - e não é o topete do Itamar ou o gogó de Fernando Henrique. Trata-se da reforma do guarda-roupa do PFL. Ao que parece, o partido cansou-se dos jaquetões solenes e convencionais, nos quais andou metido nos quatro anos do primeiro mandato de Fernando Henrique, quando sua preocupação principal era credenciar-se nos salões do poder como o mais fiel dos partidos governistas. Na última semana, o PFL passou a desfilar na capital da República com ternos de corte moderno, mais arejados, confortáveis e adequados ao atual clima político, sabidamente quente e sufocante. Trocou as cores escuras e carregadas pelos meios tons, cheios de nuances e possibilidades. E, em matéria de gravatas, chegou a surpreender pela ousadia. Decididamente, na meia-estação entre o verão da desvalorização e o outono do desemprego e da inflação, o partido resolveu ditar a moda nos salões do poder, e não segui-la. Foram-se os tempos em que o PFL contentava-se em ser um exemplo de monolitismo granítico a serviço de Fernando Henrique. Agora, ao contrário, quer abrir seu próprio caminho e deixar claro ao mundo que pensa pelo próprio nariz. Continua no governo, é claro, mas com críticas a ele. Ao abrir os trabalhos do Congresso, o senador Antônio Carlos Magalhães, por exemplo, não se fez de rogado. Num discurso veemente, mesclou solidariedade com o rumo programático do governo e críticas ao seu desempenho cotidiano. Manifestou descontentamento com o fato de o Palácio do Planalto passar dois meses em disputas com os estados, quando o país tem problemas mais sérios a resolver, e bateu duro no comportamento da equipe econômica, que não consegue impor limites às intromissões do FMI. Dias depois, foi a vez da executiva do PFL, em reunião com os governadores do partido, exigir do governo central uma nova atitude em relação aos problemas financeiros dos estados, aproximando-se na prática das reivindicações levantadas pela ala mais moderada dos governadores oposicionistas. Os apressadinhos dirão que os pefelistas, preocupados com a fortíssima queda de popularidade de Fernando Henrique e com a falta de perspectivas do Palácio do Planalto, estão começando a preparar as malas para abandonar o navio. Não se trata disso. O partido continuará a fazer parte do governo, votará a favor da indicação de Armínio Fraga para a presidência do Banco Central e dará os votos necessários para a aprovação da prorrogação da CPMF. Chegou à conclusão, porém, de que a situação está tão tumultuada e volátil que seria uma temeridade botar todos os ovos numa cesta só ou apostar num único desdobramento. Seguro morreu de velho. Para o bem A primeira alternativa do PFL não é sair do governo. Ao contrário, é entrar ainda mais nele, assumindo novas posições e responsabilidades. O sentimento generalizado em Brasília é que viveremos, nos próximos 2 ou 3 meses, um período decisivo. Se o governo lograr readquirir um mínimo de controle sobre a situação econômica, poderá enfrentar as pesadas turbulências políticas e sociais que aparecerão pela frente. Nesse caso, o PFL quer estar no timão do barco ou, ao menos, na cabine de comando, apontando rumos. Para o mal Mas se a situação econômica se agravar mais ainda? Nesse caso, a coalizão governista enfrentará seriíssimos problemas, reacendendo-se a disputa entre monetaristas e desenvolvimentistas, hoje congelada. É possível que, então, rompa-se o precário equilíbrio entre as forças políticas que dão sustentação ao presidente. Se o PFL não estabelecer agora uma ponte direta com setores da opinião pública, independentemente de FH, como poderá abrir caminho no futuro, no momento de definição Época, 27/02/1999

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