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Governo não passa recibo na decisão do Copom


26.01.2007



Coluna do iG Lula agiu rapidamente para evitar que a decisão do Copom abrisse, no governo, uma temporada de críticas ao Banco Central e, por tabela, uma crise na equipe econômica. A primeira providência do presidente ao chegar a Davos, na Suíça, foi mandar o ministro Guido Mantega e o presidente do BC, Henrique Meirelles, conversarem com a imprensa, jogando água na fervura. Mantega foi diplomático, ao analisar a decisão do Copom: “Imagino que seja uma estratégia para prolongar as reduções das taxas de juros ao longo do tempo. O importante é que os juros estão caindo e vão continuar a cair nos próximos meses”. Meirelles, publicamente, limitou-se a dizer que trabalha em sintonia com Mantega. Mas, em conversas laterais, vendeu um peixe parecido com o de Mantega: o corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros não significou uma trombada com a estratégia de aceleração do crescimento. O importante é que a taxa de juros continue a ser reduzida ao longo ano. No Brasil, a ministra Dilma Roussef, em entrevistas aos principais jornais do país, foi taxativa: o mundo do PAC não vem abaixo porque houve uma desaceleração no ritmo de queda dos juros. “O importante é que está mantida a tendência de queda. Para o PAC, é isso que importa. Combinado com o crescimento, isso se reflete numa redução consistente do tamanho da dívida pública ante o PIB, além de uma redução significativa do déficit nominal”. Como se vê, o governo afinou rapidamente a viola. É claro que o governo continua irritadíssimo com a decisão do Copom. Avalia que, a desaceleração na queda da taxa de juros, decidida dois dias depois do lançamento do PAC, num conselho claramente dividido, no mínimo foi indício de falta de sensibilidade política. No máximo, desejo de passar um recado público de que o BC está acima das pressões. Em ambos os casos, teria sido uma derrapada – a menos que a ata do Copom traga informações sobre problemas importantes na área de preços que até agora não haviam sido percebidos por ninguém. Mas, como disse na coluna de anteontem, a inflexão na curva da derrubada da taxa de juros já era esperada pelo Palácio do Planalto. Não se sabia quando ela viria, mas se sabia que ela viria – provavelmente na reunião do Copom de março ou na seguinte. Em termos técnicos, a inflexão já estava contemplada no PAC, que trabalhou com uma taxa Selic média em 2007 de 12,2 %, o que aponta para algo entre 11,5% e 11% em dezembro. Ou seja, se em cada uma das próximas sete reuniões do Copom deste ano houver um corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, o plano sequer será afetado no plano fiscal – desde que, é claro, a economia cresça o previsto por Mantega e Dilma.. A irritação com o BC, portanto, deve-se mais à sensação de que ele produziu um ruído político desnecessário num momento delicado, sem ter razões técnicas claras e maduras para tanto. Seja como for, Lula e seus colaboradores mais próximos chegaram à conclusão de que, se a decisão do Copom foi ruim, muito pior seria abrir um bate-boca público em torno dela, correndo o risco de dividir a equipe econômica e contaminar com um fato negativo o ambiente altamente positivo criado com o lançamento do PAC. Daí o tom de bombeiro adotado por todos os ministros durante o dia de ontem. Enquanto isso, o PSDB e, em especial, o governador de São Paulo, José Serra, dirigiam suas baterias contra o PAC, considerado tímido e fraco pelos tucanos. Serra disse que a decisão do Copom é contraditória com a idéia de aceleração do crescimento. E cobrou: “Quem foi eleito para governar o Brasil foi o presidente; ele é que forma o governo, inclusive o BC”. O presidente do PSDB, Tasso Jereissati, criticou o PAC por outro viés. Considerou um grande equívoco, uma visão ultrapassada, “dar grande importância ao investimento público em detrimento do privado”. Um quer menos autonomia para o Banco Central. O outro quer menos Estado na economia. Como se vê, também no PSDB, a turma não está falando o mesmo idioma.

Vem aí um dilúvio de críticas na horta do BC


25.01.2007



Coluna do iG A decisão do Conselho de Política Monetária do Banco Central de reduzir a taxa Selic em apenas 0,25 ponto percentual foi uma ducha de água fria no governo. Afinal, nas cinco reuniões anteriores, o corte vinha sendo de meio ponto – e antes delas, o ritmo de queda nos juros era ainda mais intenso. Dessa forma, o BC bateu de frente com tudo o que o governo está querendo passar, no momento, para a sociedade. Fez questão de pisar no freio apenas dois dias depois do lançamento do PAC, um plano de aceleração do crescimento. É evidente que o governo sabia que, nos próximos meses, o ritmo da queda da taxa Selic teria de ser suavizado. Se todas as oito reuniões de Copom em 2007 cortassem meio ponto, chegaríamos ao fim do ano com uma taxa nominal próxima a 9 pontos – em termos reais, abaixo de cinco. Levando-se em conta as expectativas do mercado financeiro e a estratégia cautelosa do Banco Central, esse cenário era para lá de improvável. Assim, se a mudança de patamar na redução de juros não se desse agora, certamente ocorreria na reunião de março ou, na melhor das hipóteses, na seguinte. Em algum momento, a inflexão teria de ser feita. O problema é que ela foi feita nas barbas do PAC, no exato momento em que o governo está procurando mobilizar a sociedade para a criação de um novo ambiente político e econômico. É evidente que a decisão do Copom tem forte impacto negativo nesse processo. Provavelmente, o BC alegará razões técnicas para fundamentar sua posição. Mas o próprio fato de que a decisão tenha sido tomada por estreita margem, revelando um Copom dividido, sugere que as razões técnicas que poderão embasar a resolução, por mais relevantes que tenham sido para cinco integrantes do conselho, não pareceram suficientes para justificar a inflexão nesse momento, aos olhos dos outros três. Certamente, aqueles que defenderam a redução de meio ponto da taxa Selic (e foram derrotados na reunião) também têm motivações técnicas para seus votos. O próprio mercado financeiro estava dividido na questão. Afinal, os juros nominais e (reais) no Brasil são os maiores do mundo, a inflação está sob controle, o dólar está lá em baixo e não há qualquer sinal de uma explosão de consumo no país. E muitos dos que apostavam numa redução da taxa de 0,25 ponto percentual na reunião de ontem reconheciam que esperavam por essa decisão não porque concordassem com ela, mas devido ao perfil conservador do BC. Evidentemente, não se trata de uma explicação técnica, mas política – no limite, psicológica. Pela divisão de opiniões, pela controvérsia técnica, pelo momento político, teria sido mais prudente se o Copom tivesse aguardado pelo menos mais uma reunião antes de meter o pé no freio. Se suas razões técnicas são tão ponderáveis assim, provavelmente ficariam mais evidentes ainda daqui a 45 dias e uniriam todo o conselho na tomada de decisão, dando-lhe mais peso e provocando menor contestação. Mesmo assim, o Copom achou que não poderia esperar um mês e meio para fazer a inflexão. Deve ter visto coisas do arco da velha que ninguém viu até agora. Vamos ver o que traz a ata da reunião. Se ela não for muito convincente, haverá um dilúvio de críticas na horta do BC.

PAC ajuda a organizar a luta política


24.01.2007



Coluna do iG 48 horas depois do lançamento do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), já dá para dizer que, de um modo geral, sua repercussão foi bastante boa. É claro que choveram críticas de todos os lados e de todos os matizes, o que é natural numa iniciativa dessa natureza, que mexe com tantos interesses e incide sobre tantas áreas. No entanto, as críticas não se voltaram contra a essência do PAC: a inflexão na política econômica, com a redução da meta de superávit fiscal de 4,25% para 3,75% e o aumento dos investimentos públicos, graças aos ganhos obtidos com as quedas na taxa de juros. É um sinal de que a situação na sociedade estava madura para essa inflexão, que foi entendida como o governo a vendeu. Ou seja, como uma nova calibragem da política econômica, somente possível em função da melhoria dos fundamentos macroeconômicos, e não como uma ruptura com o que foi feito antes. A Era Palocci não acabou; simplesmente ficou para trás. A reação do setor produtivo foi favorável. A maioria dos empresários peso-pesados, ainda que alimentando dúvidas sobre a eficácia do plano, fez questão de sair em sua defesa, dizendo que ele está no caminho certo. No setor financeiro, de onde poderiam partir críticas mais duras, o clima foi quase neutro, indicando que a redução da meta de superávit foi absorvida sem maiores traumas. O comportamento dos pregões ontem falou mais alto do que dez mil palavras. Nenhum deles se mexeu significativamente. Vida que segue, em aparente normalidade. Mesmo os analistas e especialistas sempre convocados a criticar qualquer idéia ou iniciativa que fuja à mesmice predominante foram cautelosos nas suas declarações. De um modo geral, limitaram-se a vaticinar que o plano é tímido, não vai dar certo ou poderia ter ido além no corte dos gastos públicos. Para os padrões habituais, o tom foi inusitadamente moderado, um sinal de que a certeza no próprio discurso não é tão grande assim. Alguns governadores e algumas centrais sindicais também bateram em aspectos do plano. A Força Sindical não gostou da proposta de que parcela do patrimônio líquido do FGTS possa financiar investimentos em obras. Já os governadores querem compensações para as perdas de receita provocadas pelas desonerações e desejam também discutir as obras definidas como prioritárias por Brasília. No fundo, tanto num caso como no outro, as hostilidades sob controle representam apenas a abertura de negociações. E assim foram entendidas pelo Palácio do Planalto. A ordem é conversar e chegar a um entendimento no que for possível. Tudo somado, do ponto de vista político, a largada do PAC foi boa. Evidentemente, há muito a fazer em termos de esclarecimento e negociação. É claro também que muitas modificações e aperfeiçoamentos terão de ser introduzidos no projeto inicial. O essencial é que se abriu caminho para a fixação de uma agenda de disputa e entendimento político em cima daquilo que mais interessa hoje ao país: retomar o crescimento com taxas robustas, provendo inclusão social. O PAC não ajuda a organizar apenas a economia, mas também a luta política.

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