Vem aí um dilúvio de críticas na horta do BC
25.01.2007
Coluna do iG A decisão do Conselho de Política Monetária do Banco Central de reduzir a taxa Selic em apenas 0,25 ponto percentual foi uma ducha de água fria no governo. Afinal, nas cinco reuniões anteriores, o corte vinha sendo de meio ponto – e antes delas, o ritmo de queda nos juros era ainda mais intenso. Dessa forma, o BC bateu de frente com tudo o que o governo está querendo passar, no momento, para a sociedade. Fez questão de pisar no freio apenas dois dias depois do lançamento do PAC, um plano de aceleração do crescimento. É evidente que o governo sabia que, nos próximos meses, o ritmo da queda da taxa Selic teria de ser suavizado. Se todas as oito reuniões de Copom em 2007 cortassem meio ponto, chegaríamos ao fim do ano com uma taxa nominal próxima a 9 pontos – em termos reais, abaixo de cinco. Levando-se em conta as expectativas do mercado financeiro e a estratégia cautelosa do Banco Central, esse cenário era para lá de improvável. Assim, se a mudança de patamar na redução de juros não se desse agora, certamente ocorreria na reunião de março ou, na melhor das hipóteses, na seguinte. Em algum momento, a inflexão teria de ser feita. O problema é que ela foi feita nas barbas do PAC, no exato momento em que o governo está procurando mobilizar a sociedade para a criação de um novo ambiente político e econômico. É evidente que a decisão do Copom tem forte impacto negativo nesse processo. Provavelmente, o BC alegará razões técnicas para fundamentar sua posição. Mas o próprio fato de que a decisão tenha sido tomada por estreita margem, revelando um Copom dividido, sugere que as razões técnicas que poderão embasar a resolução, por mais relevantes que tenham sido para cinco integrantes do conselho, não pareceram suficientes para justificar a inflexão nesse momento, aos olhos dos outros três. Certamente, aqueles que defenderam a redução de meio ponto da taxa Selic (e foram derrotados na reunião) também têm motivações técnicas para seus votos. O próprio mercado financeiro estava dividido na questão. Afinal, os juros nominais e (reais) no Brasil são os maiores do mundo, a inflação está sob controle, o dólar está lá em baixo e não há qualquer sinal de uma explosão de consumo no país. E muitos dos que apostavam numa redução da taxa de 0,25 ponto percentual na reunião de ontem reconheciam que esperavam por essa decisão não porque concordassem com ela, mas devido ao perfil conservador do BC. Evidentemente, não se trata de uma explicação técnica, mas política – no limite, psicológica. Pela divisão de opiniões, pela controvérsia técnica, pelo momento político, teria sido mais prudente se o Copom tivesse aguardado pelo menos mais uma reunião antes de meter o pé no freio. Se suas razões técnicas são tão ponderáveis assim, provavelmente ficariam mais evidentes ainda daqui a 45 dias e uniriam todo o conselho na tomada de decisão, dando-lhe mais peso e provocando menor contestação. Mesmo assim, o Copom achou que não poderia esperar um mês e meio para fazer a inflexão. Deve ter visto coisas do arco da velha que ninguém viu até agora. Vamos ver o que traz a ata da reunião. Se ela não for muito convincente, haverá um dilúvio de críticas na horta do BC.
Comentários