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“Olha o vôo da galinha aí, gente”

“Olha o vôo da galinha aí, gente”


01.09.2006



Coluna do IG Os ataques mais duros lançados contra Lula nos últimos dias não partiram nem de Geraldo Alckmin, nem de Heloísa Helena, mas da própria realidade. Mais especificamente, da economia. Foram três os tirambaços. Primeiro, o desemprego voltou a subir em julho de acordo com o IBGE, atingindo a marca de 10,7%, a maior em 15 meses. Segundo, a Volkswagen anunciou pesadas demissões em sua unidade de São Bernardo do Campo, bastião e símbolo do sindicalismo moderno que impulsionou o nascimento do PT, e avisou que pode fechar a fábrica. Terceiro, saiu o PIB do segundo trimestre. O crescimento, de apenas 0,5%, surpreendeu até os mais pessimistas, ganhando imediatamente o apelido de “Pibinho”. Fez por merecer. As três notícias ruins explicam por que o Copom, na última quarta-feira, cortou em 0,5% a taxa de juros, deixando pasmo o mercado financeiro, que, acostumado ao conservadorismo do Banco Central, apostava numa queda menor ainda, de 0,25%. Na verdade, a ousadia do BC não teve nada de ousadia. Foi apenas uma tentativa de injetar ânimo à recuperação da atividade econômica, que está se dando de forma muito mais lenta e errática do que se esperava. Tudo bem, o ambiente macroeconômico é bom, os fundamentos estão em seus lugares, o país está pronto para um período de crescimento sustentado, mas algo até agora obscuro impede a economia de levantar vôo. José Serra, que, embora candidato a governador de São Paulo, gosta mais de falar sobre os problemas nacionais do que os do seu estado, botou imediatamente o dedo na ferida: “É o vôo da galinha, porque a economia ameaça andar e não anda por causa dessa política monetária e cambial". Alckmin foi menos preciso no diagnóstico e nos números, porém mais contundente na crítica: “O Brasil é o lanterninha do crescimento. O Brasil anda para trás, enquanto países emergentes, a América Latina, crescem mais de 6%”. Heloísa Helena, para variar, adjetivou: “O crescimento pífio é o retrato da escolha da política econômica pelo governo, que é uma sabotagem ao desenvolvimento”. Do outro lado, o governo caiu na defensiva. Houve até quem dissesse que o baixo crescimento da economia no período deveu-se aos dias parados por conta dos jogos do Brasil na Copa do Mundo. Ufa! Ainda bem que fomos eliminados nas quartas de final. Se fossemos campeões, certamente estaríamos amargando um PIB negativo no trimestre. Essas e outras explicações mambembes apenas ilustram o atordoamento do governo diante da onda de más notícias da economia. A dúvida que fica agora é sobre o impacto dessas más notícias sobre o ambiente eleitoral. É evidente que os problemas e as incertezas da economia dão munição à oposição, mas não está claro se serão suficientes para provocar mudanças nas intenções de voto dos eleitores. Afinal, o anúncio de índices medíocres de crescimento, por si só, não afeta imediatamente o cotidiano das pessoas. No máximo, tem efeito a médio prazo. “O povo não come estatísticas”, disse-me ontem um auxiliar de Lula. Mesmo admitindo que o PIB pífio foi um golpe, ele acredita que o governo tem como enfrentar o debate e conter eventuais perdas eleitorais. A conferir. De qualquer forma, o país sairia lucrando se os principais candidatos aproveitassem a decepção com o PIB do segundo trimestre para discutir os méritos e os riscos da atual política econômica, saindo do terreno das generalidades e dos chavões. Devemos manter o regime de metas de inflação? O câmbio flutuante transformou-se numa armadilha e deve sofrer algum tipo de restrição, ou o país deve perseverar nesse caminho? A política monetária deve sofrer alterações na sua essência ou seria um desatino fazer mudanças drásticas agora, quando os resultados estão prestes a ser colhidos e o país já pagou o preço pelo ajuste? O Estado brasileiro cabe no PIB? O governo gasta demais com o custeio da máquina ou com a conta de juros? São perguntas difíceis de responder, mas a tentativa de respondê-las certamente contribuiria muito para a elevação da qualidade do debate eleitoral. Do que andamos muito precisados.

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