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O rabo vai balançar o cachorro?

O rabo vai balançar o cachorro?


23.02.2007



Coluna do iG Algo não está claro nessa história de que Lula teria decidido adiar o anúncio da reforma ministerial para a segunda quinzena de março, como informaram ontem os dirigentes do PSB que se reuniram com ele. A alegação de que o presidente estaria propenso a aguardar o desfecho da disputa pela presidência do PMDB para só então montar seu novo governo não faz sentido algum. Se for verdadeira, estaríamos diante de um caso clássico do rabo que balança o cachorro. Afinal, o resultado da disputa pelo comando do PMDB não é uma questão decisiva para a formação do novo governo. Vença Michel Temer ou Nelson Jobim, os fatores que devem ser levados em conta na reforma ministerial permanecerão constantes, a saber: a) o PMDB continuará participando da coalizão governista; b) as alas que comandam as bancadas do Senado e da Câmara seguirão brigando por espaço, numa situação de relativo equilíbrio; c) o partido ficará com quatro ministérios, dois indicados pelos senadores, dois indicados pelos deputados. Lula pode até ter um preferido na disputa, Nelson Jobim, mas isso não justificaria, em hipótese alguma, o adiamento da reforma ministerial. Nos meios políticos, pululam as interpretações sobre o que teria levado Lula a pisar no freio. A primeira é de que ele não teria dito com todas as letras que a reforma ministerial ficou para a segunda quinzena de março. Apenas teria admitido essa hipótese, respondendo a uma pergunta dos dirigentes do PSB. Como os socialistas estão interessados em enfraquecer a aliança entre o PT e o PMDB de Temer, a resposta ambígua teria sido transformada em afirmação taxativa e, imediatamente, espalhada aos quatro ventos. A interpretação faz sentido? Faz. É verdadeira? Saberemos nas próximas horas. Outra interpretação corrente é de que Lula efetivamente estaria trabalhando com a hipótese do adiamento, mas a partir de motivos diferentes daqueles difundidos pelos dirigentes do PSB. O presidente teria chegado à conclusão de que precisa um pouco mais de tempo para desarmar a forte pressão do PT para que ele convide Martha Suplicy para o Ministério da Educação ou das Cidades. Lula já decidiu que não vai tirar o também petista Fernando Haddad da Educação. Está muito satisfeito com seu trabalho e não vê razão para substituí-lo. No caso das Cidades, se afastasse Márcio Fortes, do PP, teria de alojá-lo em outra pasta igualmente importante, provavelmente Agricultura. Está na dúvida se vale a pena. O mais importante, porém, é que o presidente ainda estaria avaliando a relação custo e benefício da entrada de Martha no governo. Se ela vier a se candidatar à Prefeitura de São Paulo no ano que vem, como parece lógico, teria de se desincompatibilizar em abril de 2008. Ficaria no cargo, portanto, pouco mais de 12 meses. E Lula já disse, repetidas vezes, que, desta vez, quer um ministério estável, que dure, em princípio, até o fim do seu segundo mandato. Além disso, Martha vem sendo apresentada por muitos dirigentes do PT como provável candidata a presidente da República em 2010, como um contraponto às pretensões de Ciro Gomes, que também sonha em ser o substituto de Lula. Se há uma coisa que Lula não quer é antecipar e trazer para dentro do governo o debate da questão sucessória. Sabe que isso mata qualquer governo. Quase matou o dele no primeiro mandato, quando os ministros José Dirceu e Antônio Palocci aglutinavam apoios, formavam torcidas e incendiavam paixões. Tudo que se fazia ou deixava-se de fazer tinha de passar pelo crivo da pergunta: a quem interessa? A Dirceu ou a Palocci?. Por que, então, na conversa de ontem, Lula insistiu junto aos dirigentes do PSB para que convencessem Ciro a voltar para o ministério? Por puro teatro. Ciro já disse ao presidente que quer exercer o mandato de deputado. Considera que a Câmara lhe dará a visibilidade e a liberdade necessárias para consolidar-se como uma alternativa para 2010. No ministério, ficaria atado às responsabilidades do cargo e à solidariedade automática com o governo. Ao reiterar o convite, Lula deu o aviso de que o Ministério da Integração Nacional era de Ciro enquanto personalidade, ex-candidato a presidente, nome de primeira grandeza, como os de Gilberto Gil, Roberto Rodrigues, Luiz Fernando Furlan e Márcio Thomas Bastos. A vaga faria parte, portanto, da cota pessoal do presidente, e não do PSB. O partido não teria por que reivindicá-la agora.

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