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O clima em Brasília já é outro

O clima em Brasília já é outro 01.11.2006 Coluna do iG As primeiras 48 horas posteriores ao segundo turno mostraram que estavam equivocados aqueles que apostavam num recrudescimento da crise política no caso da reeleição de Lula. A expressiva votação do presidente e sua forte recuperação no Sudeste, onde venceu, e no Sul, onde perdeu por pouco, sepultaram as teses aventureiras do “terceiro turno” e da “eleição sub-judice”. O jogo está jogado. E na democracia isso significa que quem tem mais votos vai para o governo e quem recebe menos votos segue para a oposição. E vida que segue: o governo, por mais poderoso que seja, não pode impedir a oposição de fiscalizar. E a oposição, por mais contundente que se pretenda, não pode impedir o governo de governar. Lula agiu com rapidez. Nem bem foram anunciados os resultados, tomou duas iniciativas buscando criar um ambiente político menos carregado. A primeira foi conceder uma bateria de entrevistas aos canais de televisão na segunda-feira, a ser completada hoje com uma entrevista coletiva à imprensa. Com isso, sinalizou que deseja mudar substancialmente suas relações com a imprensa, crispadas e defensivas no primeiro mandato. Vamos torcer para que a mudança não seja fogo de palha. A segunda iniciativa foi um apelo, em pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, ontem à noite, para que governo e oposição, mantendo suas identidades, elaborem uma agenda política comum, em torno dos interesses nacionais. Fez questão de dizer que o convite deveria ser entendida como um gesto político maior, e não como um sinal de fraqueza.“É um chamamento maduro e sincero feito por um presidente que está saindo de uma vitória expressiva nas urnas, que conta com o apoio majoritário dos governadores eleitos e que terá uma base sólida no Congresso”, explicou. Pontos dessa agenda seriam, por exemplo, a reforma política e a reforma tributária. O presidente disse ainda que o nome do seu segundo será desenvolvimento. Coincidência ou não, mais cedo em São Paulo, em sua primeira entrevista como o governador eleito, José Serra dedicou boa parte de suas declarações a uma defesa veemente da necessidade de o país superar a semi-estagnação dos últimos 25 anos e retomar o desenvolvimento. “Desenvolvimento (no Brasil) passou a ser uma coisa amaldiçoada; Desenvolvimentista passou a ser insulto”, lamentou. E deixou claro que não fará oposição a Lula com a faca nos dentes. Ao contrário: “Não fomos, não somos e nunca seremos adeptos do quanto pior melhor”. Sem esconder as diferenças políticas com Lula, Serra pretende manter uma aliança institucional com Brasília. O governador de Minas, Aécio Neves, também deu declarações no mesmo sentido. E, com isso, no balé da política, abriram-se condições para que os dois lados possam voltar a conversar de forma civilizada. Se o bom senso prevalecer, são boas as chances de os engenheiros construírem uma agenda comum e de os sapadores removerem as centenas de minas que tornaram o Congresso uma terra de ninguém. A única nota destoante no dia foi a do PFL, que prometeu se entricheirar no Parlamento e avisou que, em hipótese alguma, atravessará a rua, na direção do Palácio do Planalto. Mesmo nesse caso, porém, os disparos foram um tom abaixo dos preconizados pela ala mais dura do partido. Graças à intervenção apaziguadora do senador Marco Maciel, a nota, embora veemente, não fechou inteiramente as portas para uma negociação com o governo. Ela poderá ser feita pelos líderes do partido, dentro do Congresso. Já é alguma coisa. Tudo somado, o ambiente político em Brasília mudou da água para o vinho depois das eleições. Os incendiários estão de crista baixa. Os mais sensatos começaram a sair de um longo período de hibernação. Já, já voltarão a trocar figurinhas.

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