Nem céu de brigadeiro, nem divisão irremediável
01.02.2007
Coluna do iG
A guerra de blocos que tomou conta da Câmara ontem comporta duas leituras. A primeira é de que o governo terá um futuro risonho e tranqüilo na Câmara nos próximos anos.Afinal, somando-se o blocão, capitaneado pelo PT e pelo PMDB, com o bloquinho, que agrupa o PSB, o PCdoB e o PDT, ambos compostos por partidos governistas, o total é de 343 deputados, maioria suficiente para aprovar com folga até emendas constitucionais.
A segunda leitura é de que o surgimento dos dois blocos consolidou de modo irremediável a divisão da base governista, já esboçada com o confronto entre as candidaturas de Arlindo Chinaglia e de Aldo Rebelo. Daqui para frente esse processo só tenderia se agravar. No fundo, já estaríamos vivendo sob o signo de 2010. Ciro Gomes? Marta Suplicy, Dilma Roussef ou Jaques Wagner? Façam suas apostas ...
As duas leituras, embora captem aspectos importantes da realidade, são limitadas. Nem a situação do governo no Congresso é tão tranqüila como os números parecem indicar, nem a divisão dentro da coalizão atingiu uma dimensão tão dramática como os ânimos exaltados na Câmara podem sugerir. O que os fatos demonstram é que Lula está dando a largada para o segundo mandato com um quadro parlamentar bastante favorável, em parte devido ao seu expressivo desempenho nas urnas, em parte devido à falta de rumo da oposição, mas esse cenário pode se deteriorar se não houver um salto na articulação política do governo.
A entrada do PMDB na base governista significou um extraordinário reforço para Lula. Mas, ao mesmo tempo, ela cria problemas, pois se trata de um partido muito grande, espaçoso e profissional. Dividido e remando contra a corrente, como no primeiro mandato do presidente, o PMDB não assustava ninguém. Mas, jogando a favor do vento e com um grau de mínimo de unidade, pode ser uma jamanta política.
Ao apoiar Chinaglia, por exemplo, deixou claro que estava voltando para o centro do jogo político, e não para sua periferia. Entre embarcar na canoa de Aldo Rebelo, na qual o PFL já ocupava a posição de aliado preferencial, ou tornar-se o grande eleitor de Chinaglia, o PMDB não pensou duas vezes. Sem pestanejar, optou pelo papel de fazedor de reis.
Ontem, diante da formação do bloquinho, reagiu de forma fulminante com o blocão. Deu o recado de que a Câmara voltou a ter um centro de gravidade político, capaz de produzir com rapidez e contundência os movimentos necessários para preservar seu poder. Se Chinaglia for eleito presidente da Câmara hoje, como parece provável, o PMDB, menos de quatro meses depois das eleições em que se apresentou dividido, terá consolidado a posição de principal partido no Legislativo, não apenas pelo tamanho de suas bancadas, mas por sua influência política. Não é pouca coisa.
É evidente que isso mexe profundamente com a frágil e instável aliança que sustentou Lula no primeiro mandato. Gera inseguranças. Acende ressentimentos. Provoca reações. Mas, principalmente, torna muito mais complexo o jogo político no interior da coalizão. O fato é que a mesa de pôquer do Palácio do Planalto não é mais a mesma. Há, pelo menos, três grandes parceiros com jogo forte na mão: o PT, o PMDB e o bloco do PSB, PCdoB e PDT.
São três parceiros capazes de assegurar maioria ao governo no parlamento, mas são três parceiros capazes também de produzir brigas monumentais no salão. Lula terá muito trabalho pela frente.
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