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Lula não quer governo metido na briga do PT

Lula não quer governo metido na briga do PT


07.02.2007



Coluna do iG Nas últimas 48 horas, Lula pediu aos ministros do PT que tenham uma atitude discreta na luta interna do partido. Foi bastante enfático numa conversa com o ministro das Relações, Tarso Genro, que ameaçava ocupar o lugar de líder da oposição ao Campo Majoritário. Querendo ou não, com esse tipo de trombada, Tarso puxaria a briga no PT para dentro do Palácio do Planalto. Isso é tudo que Lula não quer no momento. Pela mesma razão, o presidente pediu aos ministros do Trabalho, Luiz Marinho, e à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para não assinarem um documento interno com fortes críticas à atuação da direção do partido nos últimos anos. Lula fez o mesmo apelo a ministros e assessores que integram o Campo Majoritário, como Luiz Dulci e Marco Aurélio Garcia: devagar com o andor. Por experiência própria, o presidente sabe que as disputas internas no PT costumam ser apaixonadíssimas e duríssimas. Quando o partido estava fora do poder, o efeito do bate-boca era limitado. Esgotava-se na militância. Agora, porém, a situação é outra. Acompanhado de perto pela imprensa e explorado pelos adversários, o debate pode produzir estragos bem maiores do que no passado. O maior deles seria contaminar a agenda positiva do governo, voltada para o crescimento econômico e a inclusão social, com a agenda negativa do partido, centrada na discussão da crise do mensalão e das práticas internas que vieram à tona durante o escândalo. Se os ministros do PT entrarem de corpo e alma na briga, a confusão entre as duas agendas será inevitável, o que, no momento de largada do segundo mandato do presidente, só traria problemas para o governo. Daí o pedido feito por Lula de que haja uma separação de corpos entre o governo e o partido. Tanto que, na sexta-feira, Lula irá a Salvador para o jantar de comemoração dos 27 anos do PT. Desfilará ao lado do governador da Bahia, Jaques Wagner. Falará para os militantes em clima de vitória. Aproveitará a ocasião para vender com entusiasmo o peixe do PAC. Mas, estrategicamente, deixará a capital baiana antes do início da reunião do diretório nacional, que começa a preparar o 3º Congresso do PT, no sábado. Não quer se envolver de jeito nenhum com o quebra-pau. É verdade que Lula tem atuado discretamente nos bastidores. Por um lado, dizendo que o partido deve uma explicação à sociedade e à militância sobre o que ocorreu. Por outro, pedindo que o PT não deixe de levar em conta a posição que ocupa no governo e no país. Por mais dura que seja a disputa, ao final algum tipo de compromisso terá de ser feito entre as diferentes alas do partido. No fundo, a linha defendida por Lula é a seguinte: a direção do PT tem de mudar e ser mais representativa do conjunto do partido, o que implica diminuição de espaço do Campo Majoritário, mas sem que ele seja humilhado pelas correntes de oposição. Ou seja, nenhum dos dois lados deve buscar uma vitória decisiva. No final, deve prevalecer a composição. Não há dúvida de que uma solução dessas seria a melhor para o governo. Mas será a melhor para o PT? Depende. Se a busca do compromisso for sinônimo de responsabilidade na disputa política, tudo bem. Mas, se for pretexto para botar panos quentes na história, será uma decepção. Afinal, depois da monumental crise por que passou, o partido não pode se limitar a dar explicações para inglês ver – ou para o governo gostar. Precisa entender por que capotou e por que sobreviveu à capotagem. Tomando emprestados os versos de Caetano, precisa encarar de frente, sem subterfúgios, a dor e a delícia de ter sido o que foi e de ser o que é.

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