Ibope confirma: Lula venceu primeiro round na TV
28.08.2006
Coluna do IG
A julgar pela pesquisa do Ibope divulgada ontem pelo Estadão, já medindo o impacto sobre os eleitores das duas semanas iniciais da propaganda no rádio e na televisão, Lula foi amplamente vitorioso nesse primeiro round.
Vamos aos números. O presidente está com 49% das intenções de voto, contra 47% na pesquisa anterior, realizada há nove dias, logo no início do horário eleitoral. Alckmin subiu um ponto, passando de 21% para 22%, mas não tem motivos para comemorar. Afinal, Heloísa Helena caiu três pontos (foi de 12% para 9%) e, com isso, Lula aumentou ainda mais sua vantagem sobre todos os outros candidatos somados. Ela passou de 11 para 15 pontos. Se as eleições fossem hoje, ele seria reeleito com folga no primeiro turno, com 60% dos votos válidos (57% na sondagem anterior).
O Ibope registrou também o mesmo fenômeno que já havia sido captado pelo Datafolha da semana passada: fruto da propaganda na TV, a imagem do governo melhorou fortemente. Hoje, 44% dos entrevistados consideram o governo Lula ótimo ou bom (41% na pesquisa anterior), contra 17% que o julgam ruim ou péssimo (21% antes). Nada menos de 61% aprovam a forma de Lula governar – uma ascensão de quatro pontos em menos de dez dias.
Vamos a análise. Não há mais dúvida de que a campanha de Lula conseguiu atingir os objetivos a que se propôs no momento de largada da campanha na TV: divulgar maciçamente as realizações do governo nas mais diversas áreas, carimbando a idéia de que o país está no rumo certo e, portanto, não há razões para uma troca de comando. O forte crescimento na avaliação do governo mostra que a propaganda funcionou – e como as intenções de voto em Lula subiram menos do que a avaliação positiva de seu governo, é possível que ele ainda venha a se beneficiar eleitoralmente, na margem, desse movimento.
Está claro também que a campanha do PSDB e do PFL não conseguiu alcançar o que queria: alavancar as intenções de voto em Alckmin para um patamar perto de 30 pontos, e não 20, no início de setembro, difundindo nacionalmente a imagem do candidato tucano como um homem simples, um administrador competente e um político íntegro. Embora a propaganda de Alckmin esteja sendo bem avaliada pelos entrevistados, ela não logrou produzir deslocamentos significativos no eleitorado. Parece que a maioria das pessoas está reagindo diante da propaganda do candidato do PSDB da mesma forma que reagia a dupla caipira Tonico e Tinoco quando era apresentada a uma novidade interessante, mas que não lhe fazia a cabeça: “É bão, mas pra nóis num serve ...”.
Por último, Heloísa Helena bateu no teto e refluiu. Depois de um crescimento muito forte em julho e na primeira quinzena de agosto, de 6% para 12% das intenções de voto, a candidata do PSOL sofreu um baque. A explicação mais óbvia para a queda está no pouco tempo da senadora no horário eleitoral: pouco mais de um minuto, contra dez de Alckmin e sete de Lula. O mesmo massacre repete-se nos comerciais no rádio e na televisão: Heloisa tem apenas um por emissora a cada dois dias, contra quase cinco por dia, em média, do tucano, e quatro de Lula. Sem exposição na TV, a candidata do PSOL deu uma murchada. Interessante: dos três pontos perdidos por ela, um foi para Alckmin e dois foram para Lula. É a primeira vez que o presidente toma votos de HH, que, por sua vez, havia crescido tomando votos de Alckmin.
Tudo somado, o favoritismo de Lula não foi abalado nas duas primeiras semanas de propaganda na TV. Dizem os especialistas que os 45 dias do horário eleitoral podem ser divididos em três fases. Nas primeiras duas semanas, a audiência é razoável, o programa tem impacto e, freqüentemente, há mexidas importantes no cenário. Já nas três semanas seguintes, como o acompanhamento dos programas cai sensivelmente, eles pouco influenciam o eleitor. Daí que sejam raras as reviravoltas nessa etapa. A temperatura só volta a elevar-se na reta final, nos últimos quinze dias de campanha, quando a audiência sobe fortemente, o povão decide ou confirma seu voto, e as viradas são comuns.
Pelo visto, para Alckmin, restam as duas fases finais. Porque a primeira, extremamente importante, a de largada da propaganda, passou em branco para ele. Mesmo que venha a subir o tom agora, o candidato do PSDB terá uma pedreira pela frente. E nada garante que uma mudança de discurso agora virá a alterar os rumos da disputa. Se Lula não fizer nenhuma grande besteira até meados de setembro, tende a entrar na reta final numa posição muito confortável.
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