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FH toma distância da turma com a faca nos dentes

FH toma distância da turma com a faca nos dentes


27.10.2006



Coluna do iG A notícia mais importante de ontem não foi a divulgação de três pesquisas diferentes, todas apontando uma folgada vitória de Lula no segundo turno, com uma dianteira igual ou superior a 20 pontos sobre Alckmin. A essa altura do campeonato, ninguém mais acredita numa reviravolta na corrida presidencial. A única dúvida que existe é sobre quantos caminhões de votos de vantagem Lula terá sobre seu adversário. Se a fila de carretas for grande, somando algo próximo a 20 milhões de votos, a situação política no “day after” será uma; se o tamanho do comboio cair pela metade, chegando perto de 10 milhões, será outra. Mais importante foi a entrevista dada por Fernando Henrique à Band News FM, na qual o ex-presidente, depois de deixar claro que não está “no rol dos que querem impeachment, golpe”, afirmou com todas as letras: “Essa não é minha idéia. Eleição você respeita. O povo decidiu, está decidido”. O ex-presidente esclareceu que essa atitude de respeito à decisão das urnas não implica que as denúncias que atingem o atual governo devam ser deixadas de lado. Quem errou deve ser punido, disse ele. “Mas a voz do povo tem de ser respeitada”, arrematou. A entrevista de do ex-presidente contribui positivamente para arrumar o quadro político pós-eleitoral. No que depender de Fernando Henrique, os tucanos farão uma oposição dura a um eventual segundo governo Lula, mas sem flertar com o insondável, como vem fazendo a turma com a faca nos dentes do PSDB e do PFL que, nas últimas semanas andou defendendo teses esquisitas como a do “terceiro turno”, da “eleição sub judice” e do “impeachment depois da reeleição”. A aposta de Fernando Henrique é outra. “O PSDB tem de voltar a ter idéias que levem o país adiante”, disse. Essas palavras podem ser entendidas como uma crítica velada à campanha de Alckmin, que não conseguiu firmar uma identidade clara junto ao eleitorado. Mas podem ser também um reconhecimento de que o partido como um todo passou os últimos anos patinando, sem propostas claras para o país, fazendo uma oposição sem rumo, ao sabor dos acontecimentos. Para voltar ao poder, não basta ao PSDB ser anti-PT ou falar de suas realizações nos oito anos de Fernando Henrique. Terá de mirar no futuro. Para isso, mais do que se debruçar sobre o passado, o essencial é fazer um diagnóstico certeiro do presente. O que é o Brasil hoje? Quais os seus gargalos? Qual o significado do governo Lula? Quem dá o tom da oposição, os tucanos ou os pefelistas? Qual o papel do Estado na retomada do desenvolvimento? Qual o caminho de inserção do país no mundo globalizado a ser percorrido? Como combinar crescimento econômico com inclusão social? Como construir um novo pacto federativo, num momento em que é patente o isolamento de São Paulo, o estado mais dinâmico do país? São muitas perguntas – e todas sem resposta do PSDB. Pode-se dizer que o PT também não está muito à vontade em várias delas. Mas, como as urnas estão mostrando, os defeitos dos adversários, por si só, não fazem dos tucanos uma alternativa de poder. Par isso, é preciso algo mais do que malhar o Judas no varejo. É preciso um projeto de país no atacado.

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