Debate na Record: um pouco mais do mesmo
24.10.2006
Coluna do iG
O debate de ontem na Record não trouxe novidades. Geraldo Alckmin não retomou o estilo Mike Tyson adotado na Band, embora tenha usado um tom mais forte do que no encontro do SBT. Lula mostrou-se bem mais à vontade do que nos debates anteriores, sem mostrar irritação e sem apelar para a ironia excessiva. Os marqueteiros dos dois candidatos devem ido para a cama satisfeitíssimos. Afinal, seus pupilos cumpriram à risca os papéis que lhe foram atribuídos. Ninguém passou do ponto, ninguém escorregou, ninguém foi surpreendido.
É verdade também que nenhum dos dois surpreendeu o adversário. Alckmin ainda teve dois lampejos de originalidade. Trouxe à baila uma denúncia nova sobre a corrupção: o suposto superfaturamento de obras da Infraero. E propôs uma entrevista coletiva junto com Lula para que fosse comprovada ou desmentida a acusação do presidente de que ele, como governador de São Paulo, teria torrado uma fortuna em transporte aéreo.
Lula limitou-se a vender (bem) o seu peixe: pela primeira vez na história, o Brasil estaria crescendo com distribuição de renda e redução da desigualdade social. Bateu nessa tecla sempre que teve uma chance. E foi ajudado por uma pergunta errática de Alckmin sobre o Nordeste. Disse que sua afinidade com a região era uma questão sanguínea, não tinha nada a ver com debate eleitoral. Foi seu melhor momento no debate.
Alckmin procurou levar o confronto para o terreno ético, Lula fez o que pode para discutir programas de governo. É nessa toada ficamos praticamente duas horas. Cada um falando o que queria, para o seu público. No final, a meu juízo, deu zero a zero no placar. Fiquei com aquela sensação que freqüentemente assalta os comentaristas esportivos: se ao dois candidatos tivessem jogado 90 horas, e não 90 minutos, o resultado seria o mesmo. Ao tucano, falta bala na agulha para virar o jogo. Ao presidente, falta vontade de partir para o ataque. Está administrando a partida. Faz sentido: ao empatar o jogo de ontem, Lula ficou um pouco mais perto de levantar a taça no domingo.
Vamos aguardar o debate da Globo. Pelo visto, teremos mais do mesmo – talvez com uma presença menor dos candidatos e maior da produção, mas sem grandes novidades. Nestas eleições, os debates já deram o que tinham de dar.
Nos bastidores, tanto da campanha de Lula quanto da campanha de Alckmin, não encontrei ninguém nos últimos dias que, em conversas reservadas, apostasse numa reviravolta. De um lado, o clima é de tensa torcida para que tudo acabe logo; de outro, de conformismo diante do inevitável.
Está todo mundo preocupado com o “day after”.
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