18.10.2006
Coluna do iG
Os números da mais recente pesquisa do Datafolha são uma cachoeira de água fria nas pretensões eleitorais de Geraldo Alckmin. Lula, que subiu para 57% das intenções de voto, abriu uma vantagem de 19 pontos sobre Alckmin, que caiu para 38%. No universo dos votos válidos, a diferença a favor do presidente alcançou 20 pontos – na pesquisa anterior, de terça-feira da semana passada, era de doze. Ou seja, em sete dias ela aumentou oito pontos. Está claro que estamos diante de uma onda a favor de Lula, de intensidade muito superior a que se podia esperar.
Lula cresceu e Alckmin caiu em todas as regiões, em todas as faixas de renda e em todos os segmentos de escolaridade. Os movimentos são, portanto, consistentes e homogêneos. O presidente alcançou um patamar espetacular no Nordeste (75% a 25%), aumentou sua vantagem no Sudeste (56% a 44%) e no Norte e no Centro-Oeste (58% a 42%) e reduziu a dianteira de Alckmin no Sul, a única região onde o tucano leva a melhor (53% a 47%). À luz desses números, não se sustenta a tese de que Lula seria o preferido do Brasil atrasado, enquanto Alckmin venceria no Brasil moderno.
Quando se decompõe o eleitorado por renda mensal, Lula já ultrapassou o tucano na faixa de 5 a 10 salários mínimos (52% a 48%), onde, dez dias atrás, o ex-governador de São Paulo vencia por dez pontos de diferença. Mesmo entre os que ganham mais de 10 salários mínimos, a diferença a favor de Alckmin reduziu-se significativamente (60% a 40%). Vale destacar que, em termos de escolaridade, o presidente somente é derrotado entre os que possuem curso superior, mas a diferença, que andou acima da casa dos 20 pontos na virada do segundo turno, encurtou para doze (56% a 44%)
Pode-se dizer que o jogo está jogado e que é impossível uma virada? Não, na vida nada é impossível. Mas é muito pouco provável que Alckmin tenha discurso, tempo e forças para mudar o quadro atual. Para se ter uma idéia da magnitude da tarefa, ele teria de tomar mais de 900 mil votos de Lula por dia, todos os dias, até o dia da eleição, para impedir sua vitória. Convenhamos: é muito pouco provável que isso aconteça, a menos que ocorram fatos novos espetaculares que provoquem um terremoto eleitoral. Como os índices de “alopragem” no PT são sabidamente elevados e tampouco até agora sabe-se de onde veio o dinheiro para a compra do dossiê, não se pode descartar inteiramente a possibilidade de uma reviravolta. Mas a simples constatação de que as chances de Alckmin dependem basicamente da intervenção do inesperado mostra como sua situação é complicada.
Embora muitos fatos e episódios tenham contribuído para a boa performance de presidente e para os tropeços de seu adversário nas últimas semanas, a explicação básica para a disparada de Lula nas pesquisas é simples: ele venceu o debate político com Alckmin. No segundo turno, sem a presença de azarões e nanicos, a disputa transformou-se num mano a mano entre os dois candidatos, que favoreceu e impôs a confrontação política. A campanha de Lula percebeu isso e forçou uma comparação entre o atual governo e as propostas da aliança do PSDB com o PFL. Nesse momento, Alckmin acabou agarrando-se na tábua de salvação da cobrança ética. E, quando não tendo conseguido sustentar o fogo, foi obrigado a se pronunciar sobre temas como privatizações, economia, programas sociais, Bolsa-Família etc, caiu na defensiva. Pior: quis sair da defensiva convencendo o eleitorado de que suas idéias nessas questões não são muito diferentes das de Lula. Não convenceu. Declarou-se contra as privatizações, manifestou-se a favor do Bolsa-Família, apoiou o Pró-Uni etc. E com isso apenas abriu o flanco para a campanha de Lula encaixar um slogan demolidor: “Não troque o certo pelo duvidoso”. Faz sentido.
Se as urnas vierem a confirmar as pesquisas e o presidente for reeleito, o PSDB e o PFL terão de passar por uma boa chacoalhada interna. Precisam entender que a bandeira de ética, por mais importante que seja, não pode ser um expediente para esconder a falta de propostas. E que só hoje só vence as eleições para presidente no Brasil quem falar para o país todo (e for entendido por ele). A classe média – média-média e média-alta – é pouco para levar alguém ao Palácio do Planalto. Como já disse antes (ver coluna do dia 21/08/2006 e entrevista à revista Caros Amigos), o “efeito pedra no lago” acabou. A formação de maiorias no país hoje é um processo muito mais complexo e sofisticado do que há dez anos. Felizmente. É um sinal de que o país está se modernizando social e politicamente.
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