Campanha para deputado: novidades no ar
24.08.2006
Coluna do IG
A Câmara anda às moscas, já que a quase totalidade dos deputados está nos estados, em campanha. No plenário e no Salão Verde circulam apenas aqueles parlamentares que, por integrarem a CPI dos Sanguessugas e terem espaço garantido nos jornais e nas TVs, descobriram que ganham mais votos dando declarações em Brasília do que suando a camisa no corpo-a-corpo com o eleitor nas ruas. Assim, ainda não dá para tomar com exatidão a temperatura sobre a campanha para deputado nos estados.
Mas as primeiras informações e avaliações que chegam, ainda que fragmentadas, dão conta de que há novidades no ar. E as mudanças são positivas: o eleitor anda mais arisco, o dinheiro ficou mais curto e as campanhas estão mais baratas. Tudo indica que os escândalos sucessivos deixaram o cidadão mais antenado e as alterações na legislação eleitoral estão dando resultado.
Vários deputados experientes com os quais falei nos últimos dias coincidiram na avaliação de que os escândalos que abalaram o Congresso nos últimos anos provocaram mudanças na atitude do eleitor. Mesmo nos grotões, as cobranças estão maiores. Não se pode dizer que, nas áreas mais atrasadas, tenha se formado uma opinião pública vigilante, mas a sensação é de que algo está se mexendo. O eleitor, antes indiferente ao que se passava em Brasília, agora quer saber se o candidato está envolvido no mensalão e, principalmente, no esquema dos sanguessugas. O fato é que os deputados sob suspeita, em especial no caso das ambulâncias superfaturadas, vivem dificuldades.
Um tarimbado parlamentar oposicionista disse-me que, no estado dele, a Bahia, mesmo no interior, os candidatos que levam o rótulo de “sanguessuga” na testa estão cortando um dobrado no contato com o eleitor. Poucos devem se reeleger. A mesma avaliação colhi de um deputado governista com muito tempo de janela na política. Em seu estado, Pernambuco, o fenômeno é idêntico.
Severino Cavalcanti, por exemplo, que sempre teve uma eleição tranqüila, graças aos currais eleitorais do interior, desta vez não está voando em céu de brigadeiro. Ao contrário, vem atravessando uma zona de fortes turbulências. Tanto pode se eleger raspando, como pode rodar e não voltar a Brasília. A avaliação não é minha, mas de pessoas que conhecem bem o comportamento do eleitorado pernambucano – entre elas, o ex-governador Jarbas Vasconcelos.
O processo é simples. Como os escândalos deixaram o eleitor mais desconfiado e o candidato mais pesado, os cabos eleitorais e os prefeitos que arregimentam votos no interior passam a exigir mais recursos ou preferem migrar para candidatos mais leves, com desgaste menor. Desse modo, a caça ao voto torna-se mais cara. E, como o dinheiro anda curto, as contas não fecham. E, em conseqüência, os votos não vêm.
Outra novidade interessante é que, com as alterações nas regras eleitorais, as campanhas estão mais baratas para todo mundo. Segundo o cálculo de parlamentares experientes, a proibição da distribuição de brindes e camisetas, a supressão dos out-doors e o fim dos showmícios reduziram os gastos de campanha, a preços corrigidos, para metade ou mesmo um terço do que se desembolsava nas eleições anteriores. O que pesa no orçamento hoje são as despesas com papel, viagens, adesivos e, como ninguém é de ferro, com o pagamento de cabos eleitorais.
De qualquer forma, a derrama de dinheiro diminuiu e, junto com ela, a influência do poder econômico. Para o candidato com bases eleitorais consistentes, a novidade não atrapalha. Ao contrário, é uma benção. Mas, para os chamados pára-quedistas ou trem-pagadores, que se elegiam apenas na base do dinheiro, as novas regras são um tremendo estorvo.
Vamos torcer para que as urnas confirmam esses sinais de fumaça positivos.
Comentarios