Bloco pode levar governo a se apoiar num tripé
31.01.2007
Coluna do iG
A bancada do PDT decidiu apoiar Aldo Rebelo para a presidência da Câmara e formar um bloco com o PSB, o PCdoB e o PV, que talvez venha a atrair outros pequenos partidos. O apoio do PDT, a dois dias das eleições, fortalece a candidatura de Aldo, mas Arlindo Chinaglia continue sendo o favorito. Amanhã saberemos quem levou a melhor. Já não era sem tempo. Ninguém agüenta mais esse nhenhenhém.
Já o endosso do PDT à idéia do novo bloco tem um alcance político mais duradouro. PSB, PCdoB, PDT e PV, juntos, ultrapassam 70 deputados, ficando logo atrás do PMDB, que elegeu 89, e do PT, com 83. Se outros pequenos partidos somarem-se a esse movimento, a bancada do bloco engordará ainda mais.
Ainda não estão claras as intenções dos partidos que estão impulsionando a iniciativa. Podem estar mirando no varejo. A agrupação de forças seria apenas (ou principalmente) um expediente para conquistar melhores posições na mesa da Câmara e ter mais influência no dia-a-dia da casa. Se for assim, é coisa miúda.
Mas há indícios de que os partidos estão mirando no atacado. A formação do bloco seria uma resposta à aliança entre o PT e o PMDB, que lançou a candidatura de Chinaglia, e à possibilidade de que ela, consolidando-se, viesse a agir como um rolo compressor dentro do segundo governo Lula. Divididos, os partidos médios com perfil de esquerda seriam postos à margem do jogo político da coalizão governista pela ação conjunta das duas legendas maiores. Unidos, eles passariam a ser um fato de poder que não poderia ser desprezado, tendo voz ativa nas decisões de fundo.
Isso é bom ou ruim para Lula? Talvez seja bom. Primeiro, porque contribui para garantir uma expressão adequada de importantes parcelas da base política, eleitoral e social do governo. Impede sua asfixia. Segundo, porque ajuda a organizar o jogo político no seu interior. Em vez de lidar isoladamente com 11 partidos, o presidente poderia negociar preferencialmente com três grandes formações: o PMDB, o PT e o bloco.
É claro que ele teria também de levar em conta os partidos médios remanescentes – o PP e o PR (ex-PL) –, mas já num segundo degrau de uma escala de prioridades. Quanto ao PTB, que se encontra em aguda disputa interna, o mais provável é que se torne irrelevante. Deve perder um grande número de deputados, especialmente para o PSB.
Tudo somado, nessas condições, a coalizão governista tenderia a se assentar basicamente sobre um tripé, e não sobre um eixo. Resultado: o jogo político no seu interior se tornaria mais complexo, o que aumentaria a margem de manobra de quem está no centro dos acontecimentos: o presidente. Desde que, é claro, ele não perca a iniciativa e saiba usá-la a seu favor.
Em contrapartida, a direção e a estabilidade da ação do governo exigiriam muito mais sofisticação da articulação política do Palácio do Planalto do que ela teve até agora. Trata-se de um desafio e tanto.
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