Alckmin parte para o “bate, doutor”
30.08.2006
Coluna do IG
Duas pesquisas de opinião divulgadas ontem encerraram a primeira fase da campanha presidencial. Cinco declarações políticas dadas ontem abriram uma nova etapa na disputa.
Comecemos pelas pesquisas. Os números colhidos pelo Sensus e pelo Datafolha não deixam dúvidas: Lula venceu o primeiro round da campanha e alcançou uma posição muito forte depois de 15 dias de propaganda na TV. Tem 51% das intenções de voto no Sensus e 50% no Datafolha. Alckmin vem bem atrás, sem chegar a se constituir numa ameaça direta à reeleição do presidente. Mas atenção: os índices do tucano nas duas pesquisas são muito diferentes. Para o Sensus, ele não teria crescido com o horário eleitoral, permanecendo no patamar de 20%. Já para o Datafolha, o candidato tucano experimentou leve e contínua ascensão no período, estando hoje com 27% das intenções de voto. A diferença de sete pontos é muito grande para ser atribuída a margens de erros ou diferenças metodológicas. Um dos dois institutos está errado. Ou os dois. O tempo dirá. No caso de Heloísa Helena, há convergência no movimento e nos números captados pelas duas pesquisas. A senadora está em queda, com 9% numa e 10% noutra.
Seja, como for, todas as sondagens apontam para uma vitória tranqüila de Lula no primeiro turno (62% dos votos válidos no Sensus, 56% no Datafolha e 60% no Ibope de domingo), se as eleições fossem hoje. Mas as eleições não são hoje. Vão se realizar no dia 1o de outubro. E como a oposição não é peru, que morre de véspera, lutará com todas as armas a seu alcance para tentar evitar uma derrota que, pelos números do momento, seria acachapante. Perdido por dez, perdido por mil – nas atuais circunstâncias, Alckmin não tem outro caminho a seguir senão o de lançar uma campanha de ataques contra Lula.
Passemos às cinco declarações de ontem. A primeira foi dada por Fernando Henrique, num almoço no Jockey Club para levantar fundos para a campanha de Alckmin: “O povo está também indignado e precisamos despertar essa indignação. É fogo no palheiro, é isso que precisamos”.
A segunda partiu do cacique pefelista Antônio Carlos na tribuna do Senado: “A reação do Fernando Henrique foi excelente. É muito cinismo nos chamarem de corruptos. Apresento minha solidariedade ao Fernando Henrique diante das ofensas de um presidente que não sei se estava no seu estado normal, porque costuma utilizar o álcool para falar. O lugar de Lula é na cadeia”.
A terceira declaração integrou discurso do presidente do PSDB, Tasso Jereissati, também na tribuna do Senado: “O governo Lula acabou criando três culturas perversas: a do não-trabalho, a da corrupção e a da mentira. A do não-trabalho, com essa bolsas e o Pronaf. A da corrupção, quando diz que roubar é válido perante a população menos instruída. E a da mentira, quando admite que mentir é normal”.
A quarta e a quinta vieram do próprio candidato Geraldo Alckmin. Uma, no almoço do Jockey Club: “Assim como Jesus expulsou os vendilhões do templo, vamos expulsar os vendilhões da pátria”. Outra, à noite, na cidade mineira de Araxá: “Eu queria debater com o presidente, mas ele é fujão. Agora vou atender aos apelos das ruas, de “bate doutor”.
À noite também, o programa de TV de Alckmin já estava nessa linha. Um locutor, com voz pausada e semblante indignado, sentou a mamona em Lula, depois de desfiar os escândalos sucessivos que marcaram o governo do PT: “O Brasil hoje está na lista dos países mais corruptos. A perda com a corrupção é maior que o gasto com o Bolsa Família”. E concluiu: “um presidente que não controla seus ministros e alega que não viu nada e que não sabe de nada faz mal para o Brasil e os brasileiros. Pense nisso. E mude de presidente”.
Trocando em miúdos: a volta de apresentação terminou, Alckmin não subiu e a linha zen foi para o mosteiro. A campanha do “bate-doutor” vai começar. Se vai dar certo ou não, são outros quinhentos ...
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