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A oposição entre o divã e o banho de loja (2): a vez do PFL

  • Foto do escritor: Claudio Martins
    Claudio Martins
  • 8 de fev. de 2007
  • 3 min de leitura

A oposição entre o divã e o banho de loja (2): a vez do PFL


09.02.2007



Coluna do iG A executiva do PFL anunciou ontem que o partido mudará de nome no próximo congresso, em março. Passará a chamar-se Partido Democrata (PD), denominação que, segundo pesquisas de opinião, tem um bom apelo junto aos eleitores. Os mesmos levantamentos confirmaram o que os dirigentes do PFL já sabiam: o rótulo de liberal não ajuda a conquistar votos no Brasil. Além de ser rebatizado, o PFL passará por um banho de loja completo. A velha guarda do partido, composta por caciques como Jorge Bornhausen, Antonio Carlos Magalhães e Marco Maciel, sairá da linha de frente, passando imediatamente o bastão para expoentes da jovem guarda – entre eles, Rodrigo Maia, ACM Neto e Onyx Lorenzoni. O PFL, ou melhor, o PD pretende também atualizar seu programa. Passará a centrar sua pregação em idéias como o enxugamento do estado, a diminuição da carga tributária e o fortalecimento da iniciativa privada. Quer se tornar o campeão da luta contra o populismo, visto como uma grande ameaça à democracia na América do Sul. O presidente Lula seria apenas a versão cabocla desse perigo continental. Embora a cúpula do partido tenha anunciado todas essas mudanças em clima de festa, como se elas representassem um passo à frente, a verdade é que elas têm um caráter defensivo. Buscam responder ao progressivo definhamento eleitoral e político da legenda na última década. Foi-se o tempo em que o PFL elegia em torno de dez governadores, cem deputados, grande número de senadores e disputava o comando do Legislativo com o PMDB. Em 2002, saiu das urnas com 82 deputados. Em 2006, com 65. As estimativas são de que, em poucos meses, sua bancada na Câmara estará reduzida a 50 integrantes. Hoje o partido conta com só um governador, o do Distrito Federal. Comparando os resultados das eleições municipais de 2004 com os de 2000, constata-se que a redução no número de prefeitos e vereadores pefelistas foi da ordem de 20%. Esse processo de desidratação tem duas explicações. A primeira é que, a partir da eleição de Fernando Henrique para a Presidência da República, o PSDB, que antes ocupava uma faixa de centro ou de centro-esquerda no espectro político, começou a invadir o território tradicional do PFL. Em muitos estados, os dois partidos passaram a disputar, digamos assim, o mesmo segmento do mercado. Venceu o mais forte. Na condição de sócio-menor da coalizão comandada por FH, o PFL pagou o pato da migração tucana, perdendo cadeiras no parlamento, posições nos estados e influência nos municípios. A segunda causa do enfraquecimento do partido foi sua dubiedade intrínseca. De um lado, fazia um discurso moderno, voltado para a classe média do Sul, baseado na idéia do estado-mínimo e nas maravilhas do mercado. De outro, lutava com unhas e dentes pelo controle da máquina estatal e pela perpetuação de práticas políticas atrasadas no Norte e no Nordeste, de onde extraía sua força política e eleitoral. Essa contradição não só produziu uma tensão interna permanente no partido, simbolizada no choque entre Bornhausen e ACM, como turvou a nitidez de sua imagem diante do eleitor. Para a classe média moderna do Sul e do Sudeste, o PFL continuava a ser visto como um partido de coronéis. Já no Norte e Nordeste, o discurso do estado-mínimo aparecia como um contra-senso para um eleitor que reivindicava maior presença do estado em sua vida. Como, ao longo da década, o PFL não conseguiu resolver essa contradição, a vida acabou com o problema para ele. Nas eleições de outubro de 2006, o partido foi praticamente varrido do mapa do Norte e do Nordeste. Não elegeu um governador sequer nessas regiões. O fenômeno, enfraquecendo o poder do setor mais tradicional do partido, permitiu a sua ala mais moderna realizar o movimento de atualização programática e de reciclagem de sua base eleitoral tantas vezes adiado. É cedo para saber se esse movimento será bem sucedido, mas ele pode ser muito positivo para o desenvolvimento e aprofundamento a luta política no país. O Brasil não tem um partido conservador com um pé na modernidade – dando nome aos bois, um partido de direita democrática –, o que deixa órfã uma fatia bastante expressiva do seu eleitorado. O PSDB não chega a representar esse segmento, porque ainda se vê no espelho com fumaças de centro-esquerda. O PP, que já foi seu porta-voz num passado longínquo, hoje é um arremedo do que foi. Não tem futuro. Portanto, o PFL, ao se refundar como PD, pode dar a boa parte dos eleitores brasileiros uma alternativa eleitoral. Mas, para isso, precisa botar sintonia discurso e prática. Vamos ver se consegue .

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