A oposição entre o divã e o banho de loja (1)
08.02.2007
Coluna do iG
Finalmente, parece que caiu a ficha da oposição.
Depois de passarem meses resmungando contra os eleitores que lhe viraram as costas nas urnas, o PSDB e o PFL chegaram à conclusão, quase simultaneamente, de que precisam passar por uma boa chacoalhada interna, se não quiserem sofrer novas derrotas. Está na hora de deitar no divã ou, no mínimo, de tomar um bom banho de loja.
Amanhã ou depois, em outra coluna, abordarei a situação do PFL, que nas próximas horas deve anunciar que mudou de nome, passando a se chamar Partido Democrata. Hoje, analisarei o momento do PSDB, que realiza seu congresso em julho. Até lá quer fazer um diagnóstico da situação do partido e, para isso, montou três comissões. O que pensam os eleitores sobre os tucanos? Em que estados e grandes municípios a legenda é fraca e precisa ser vitaminada? Quais as bandeiras que o PSDB deve empunhar para voltar ao centro da cena política?
O esforço é muito positivo. Há algum tempo o PSDB vive uma séria crise de identidade. Quando foi fundado, era um partido com claras raízes democráticas e forte preocupação social. Daí o seu nome: Partido da Social Democracia Brasileira. Careceu, porém, desde o início, de uma base sindical ou mesmo popular capaz de pesar nos seus rumos políticos. As personalidades – ou seja, os tucanos de alta plumagem – prevaleceram desde logo na vida do partido.
As circunstâncias do início da década de 90 – a crise do Estado, a hiperinflação e o vazio político dela decorrente – permitiram aos tucanos uma meteórica ascensão na vida nacional. Seis anos depois da fundação do partido, ele conquistava a Presidência da República e o comando de muitos dos principais estados do país. Sem ter forjado ao longo do tempo um projeto político claro, o PSDB chegou ao poder antes da maturidade.
Resultado: em vez de aplicar as suas idéias, converteu-se num depositário das idéias dominantes na época. E acabou oferecendo ao país um coquetel de intenções social-democratas e de práticas neoliberais. Na virada do século, mesmo sem querer, já era visto por uma fatia expressiva do eleitorado como o partido da modernidade impiedosa, do estado quase-mínimo e das excelências do mercado. Aos olhos de boa parte da população, sua preocupação social tinha virado fumaça. Daí, a impopularidade de Fernando Henrique
Esse processo não se fez sem tensões internas, mas elas acabaram sendo acomodadas pelas vicissitudes eleitorais. É muito difícil mesmo trocar o pneu de um carro em movimento. O fato é que hoje em dia não se sabe o que pensa o PSDB, a não ser que ele não suporta o PT . Mas isso é pouco para conquistar os votos da maioria do país.
Nada mais distante do pensamento de José Serra do que as idéias de Tasso Jereissati. Fernando Henrique e Aécio Neves podem gostar dos mesmos vinhos, mas têm uma avaliação inteiramente diferente sobre o papel de Lula na vida nacional. Alckmin vê o Brasil pelas lentes de São Paulo, Jutahy Junior pelas da Bahia.
Qual deve ser a tática do PSDB nos próximos quatro anos? Para que eleitor deve falar o partido? Deve propor ao país uma nova onda de privatizações? A Bolsa Família é uma bolsa-esmola ou um programa bem sucedido de transferência de renda? Que papel terá São Paulo e que estímulos devem receber o Norte e o Nordeste numa nova Federação? A Alca deve voltar para nossa agenda externa? O Banco Central deve ser independente?
Como se vê, é enorme a quantidade de temas em que o PSDB não tem unidade interna. O congresso de julho certamente não trará respostas para todas essas indefinições. Mas, se conseguir apontar um rumo claro para o partido e assentar as linhas mestras de um programa que fale para o conjunto da população, já será um avanço e tanto.
Para isso, os tucanos terão de encarar de frente dois fatos. Primeiro, gostem ou não gostem de Lula, ele foi eleito e reeleito presidente da República – nas duas oportunidades com ampla maioria. Segundo, o espaço da social-democracia no Brasil hoje está ocupado por Lula e pelas forças políticas aglutinadas em torno dele.
O que deve fazer o PSDB diante disso? Renunciar à idéia da social-democracia e adotar de vez alguma variação do pensamento social-liberal ? Ou persistir na idéia da social-democracia e, com isso, admitir que, mais cedo ou mais tarde, terá de chegar a algum tipo de entendimento com aqueles que invadiram a sua praia?
São perguntas difíceis, para as quais não há respostas fáceis. Nesses casos, os tucanos gostam de subir no muro.
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