A Bolsa-Família, quem diria, é a musa destas eleições
16.10.2006
Coluna do iG
Não são apenas candidatos que saem vitoriosos ou derrotados das eleições. Temas também. Às vezes, alguns deles começam a campanha em alta, com toda a pinta de que vão emplacar, mas terminam em baixa, esquecidos por todos. Outros, porém, surpreendem. Correm por fora, vão se impondo aos poucos e acabam se convertendo em unanimidades eleitorais. Pois bem, ainda não dá para dizer quem será o próximo presidente da República, se Lula ou Alckmin, mas não há mais dúvida sobre quem é a musa desta corrida presidencial: a Bolsa-Família. Até quem não morria de amores por ela no começo da campanha, de uns tempos para cá virou fã de carteirinha da moça.
Na semana passada, na entrevista de Geraldo Alckmin à Radio Bandeirantes, perguntei ao candidato se ele não achava ambíguo o discurso de sua campanha sobre a Bolsa-Família. Mais ou menos nos seguintes termos: “Em alguns momentos, diz que é a favor dela e, inclusive, disputa sua paternidade. Em outros, diz que ela é assistencialista, eleitoreira e corrompe quem a recebe. Alguns de seus aliados chegaram a chamá-la de Bolsa-Esmola. O presidente do PSDB, Tasso Jereisssati, por exemplo, em discurso no Senado no dia 29 de agosto, disse que ela implanta uma cultura perversa, porque estimula o “não-trabalho” na população mais pobre. Qual é sua opinião sobre a Bolsa-Família? É uma Bolsa-Esmola ou um bem sucedido programa de transferência de renda?”
Alckmin foi muito claro em sua resposta. Disse que, caso fosse eleito presidente, não só manteria a Bolsa-Família como enviaria ao Congresso projeto transformando o benefício em lei, de modo a que, no futuro, ele não pudesse ser concedido ou cancelado ao bel prazer do governo federal. Sua propaganda eleitoral no rádio e na TV no segundo turno não se cansa de afirmar que ele manterá e ampliará o benefício.
Pode-se dizer que Alckmin só tomou essa atitude por conveniência eleitoral. Pode-se dizer também que muitos dos seus apoiadores não mudaram de opinião. Continuam achando que a Bolsa Família é apenas uma Bolsa-Esmola disfarçada. E daí? Na política, o importante é que o passo seja dado. Se há entusiasmo ou sinceridade na marcha, é uma questão secundária. O PT, por exemplo, que na campanha de 1994 não dava a menor importância para o combate à inflação, rendeu-se mais tarde à importância da estabilidade da moeda. Mudou de opinião feliz da vida? Claro que não. Mas mudou de opinião – isso é que importa. E essa mudança, ainda que forçada, foi positiva para o país, porque alargou o apoio político à luta contra a inflação.
O mesmo vale para a Bolsa-Família. O importante é que o programa de transferência de renda, que começou a campanha eleitoral sob fogo cerrado da oposição, tenha saído da linha de tiro e agora esteja recebendo tratamento VIP por parte de todos os candidatos.
Não é pouca coisa. Ao contrário, é uma das conquistas mais relevantes desta campanha. Pessoalmente, considero a Bolsa-Família um importantíssimo programa de transferência de renda. Necessita aperfeiçoamentos? Sem dúvida, especialmente no controle das condicionalidades, na revisão constante dos cadastros e na definição mais precisa das portas de saída. Mas, apesar desses problemas, é um programa bem sucedido. É bom, eficiente e barato. É bom, porque ajuda a diminuir a miséria e a pobreza no Brasil. É eficiente, porque o dinheiro chega às mãos de quem precisa, sendo quase todo gasto em alimentos e gêneros de primeira necessidade. Há menos gente passando fome no país hoje. É barato: 11 milhões de famílias são atendidas a um custo anual de R$ 8 bilhões 400 milhões, menos do que a União gasta por ano no serviço da dívida por cada 1% da taxa de juros. Por tudo isso, seria uma pena se a Bolsa-Família levasse uma trombada na campanha. Ainda bem que ela passou com louvor na prova de fogo do debate eleitoral.
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