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Responda rápido: é mais difícil ser aliado de Lula ou fazer oposição a ele?


07.03.2007



Por Ricardo Amaral (*interino) Alguns chefes partidários devem estar se perguntando nessa quarta-feira o que será mais difícil nessa quadra da política: ser aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou tentar fazer oposição a ele? Começando pela oposição. Num movimento de última hora, Lula subverteu a agenda da reunião com os governadores e os recebeu com um pacote de bondades raramente colhido na Granja do Torto . Ofereceu a securitização da dívida fundada dos Estados com a União, acenou com a liberação da venda de créditos difíceis, anunciou isenção de impostos para as empresas estaduais de saneamento, sinalizou um mecanismo que vai desengessar parte dos orçamentos estaduais, até aqui privilégio da União com sua DRU. “Dinheiro na veia”, como definiu o govenador tucano José Serra ao destacar a zeragem do imposto no saneamento. No Torto, Lula deu um banho de gelo em quem esperava fazer das queixas, justas, dos governadores um trampolim para o discurso de oposição. Deu-se ao requinte de escalar José Roberto Arruda, único representante do PFL, para fazer o relato oficial do encontro aos jornalistas. Mais elogios na boca da oposição. Do outro lado de Brasília, a turma do senador Renan Calheiros e do ex-presidente José Sarney colhia o fruto amargo de sua a aposta quase cega na relação que construíram com Lula nos últimos dois anos, contra vento e maré. Na crise de 2005, Renan Calheiros comprou as ações de Lula na baixa, negociando apoio do PMDB no Senado no momento em que era necessário como o ar para o governo sobreviver. Enquanto Renan e Sarney nomeavam ministros, seus adversários no PMDB indicavam membros das CPIs que serviram de ponta de lança da oposição na campanha eleitoral. Jogo jogado. As ações em poder de Renan e Sarney dispararam quando Lula superou a crise e embicou para a reeleição. O contrário também poderia ter ocorrido e, nesse caso, os senadores estariam correndo atrás do prejuízo. Renan e Sarney apostaram que Lula se engajaria na candidatura de Nelson Jobim à presidência do PMDB, em nome dos “momentos mais difíceis” do passado. Não calcularam que a outra banda do partido fez uma oferta agressiva por ações do governo, cacifada na eleição de Arlindo Chinaglia na Câmara. Aparentemente, Lula exerceu os direitos de acionista controlador e contabilizou o contrato de 2005, renovado em 2006, como exercício findo. A candidatura Jobim acabou, Renan e Sareny estrilaram, mas Lula paga para ver se eles abandonam o governo. O PMDB de Renan está aprendendo uma lição que os “companheiros” mais experientes sabem de cor. Ser aliado de Lula tem sido um bom negócio na política, ultimamente, mas ser dono de Lula é algo que nem o PT conseguiu até hoje. Integração e confusão O leitor Fávio Sereno corrige um erro da coluna de ontem. O deputado Geddel Vieira Lima foi indicado para o Ministério da Integração Nacional, não de Relações Institucionais, como saiu. Agradeço ao Flávio por ter registrado a confusão que fiz entre dois ministérios que devem trocar de comando na reforma de Lula. Peço desculpas aos leitores que, como esse distraído repórter, não tenham percebido a troca de pastas no texto. * Ricardo Amaral é repórter da Agência Reuters em Brasília. 02.03.2007 Caros amigos e leitores. Vou tirar alguns dias de férias, para recarregar as baterias. Foi um ano duro e estou cansadíssimo. No meu lugar, ficará com vocês o jornalista Ricardo Amaral, atualmente trabalhando na agência Reuters. Amaral, um mineiro que tem mais de 20 anos de Brasília nas costas, é um repórter muito bem informado e um analista político de primeira linha. É tão bom que, no serpentário da capital federal, raramente come gato por lebre. E não perde o bom humor. Desfrutem.

PMDB de Renan apostou tudo em Lula. E perdeu


06.03.2007



Coluna do iG Por Ricardo Amaral (* interino) Ainda é cedo para dizer que o PMDB sairá unificado da convenção de domingo, na qual o presidente Michel Temer será reeleito pela desistência do adversário Nelson Jobim, anunciada no final da manhã. Se Temer for reeleito com autoridade bastante para traduzir em votos no Congresso seu apoio declarado ao governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá materializado um sonho. Mesmo tendo estimulado a candidatura de Jobim, interlocutor de confiança, Lula andava mais interessado na construção da unidade interna do PMDB do que com o nome do presidente. Ele quer, precisamente, que o partido tenha um comando único, mesmo abrigando divisões, como o PT tem as dele. Se isso não é mais possível com o amigo Jobim, por que o ex-adversário Temer não daria conta do recado? Para responder a essa pergunta, será preciso acompahar atentamente o comportamento do presidente do Senado, Renan Calheiros, principal patrocinador da candidatura Jobim. Renan e o ex-presidente José Sarney decidiram apoiar Lula no momento mais difícil da crise do mensalão, em agosto de 2005. Consideram-se tão abandonados por Lula quanto o próprio Jobim. O ex-ministro do Supremo jogou a toalha porque perdeu seu mais importante trunfo: a preferência de Lula. Aberta ou velada, era essencial para desequilibar o jogo numa disputa apertada, como sempre ocorre nas convenções do PMDB. Ao receber no Planalto o deputado Geddel Vieira Lima, praticamente confirmando-o como ministro das Relações Institucionais, ontem à tarde, Lula sinalizou "neutralidade" e desfez as ilusões do grupo de Renan Calheiros. O presidente do Senado tira o time de campo na convenção, mas continua chefiando um dos poderes da República. A frágil maioria do governo no Senado, baseada nos votos do PMDB, depende dramaticamente de Renan. Lula foi convencido a ficar neutro no PMDB, fiando-se no argumento de que os dois lados juram apoiar o governo. A renúncia de Jobim e as primeiras reações do grupo de Renan indicam que essa banda do partido continua com os pés no governo, mas vai ficando mais distante do Planalto. *Ricardo Amaral e repórter da Agência Reuters em Brasília 02.03.2007 Caros amigos e leitores. Vou tirar alguns dias de férias, para recarregar as baterias. Foi um ano duro e estou cansadíssimo. No meu lugar, ficará com vocês o jornalista Ricardo Amaral, atualmente trabalhando na agência Reuters. Amaral, um mineiro que tem mais de 20 anos de Brasília nas costas, é um repórter muito bem informado e um analista político de primeira linha. É tão bom que, no serpentário da capital federal, raramente come gato por lebre. E não perde o bom humor. Desfrutem.

Lula espera um quase milagre: o PMDB com comando


05.03.2007



Coluna do iG Por Ricardo Amaral (*interino) A convenção do PMDB de domingo caminha para ser mais um jogo de time grande em campo de várzea. Começou com provocações, passou para a catimba na formação de chapas, haverá troca de pontapés e no final as equipes podem deixar o campo jurando acertar as contas no próximo confronto. O PMDB tem funcionado menos como partido do país e mais como uma turbulenta fraternidade eleitoral. São os irmãos Karamazov da política brasileira, enredados por laços de sangue numa trama de ciúmes, traição, disputa por herança, vingança crime e passionalismo. Uma grande e barulhenta família. Como sonhar não paga imposto (ainda), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou uma expectativa muito alta para a convenção de domingo. Além de torcer por Nelson Jobim, Lula espera que o vencedor – mesmo que seja Michel Temer, como ele admite – entregue um partido unido à coligação governista. Impossível o desejo de Lula não é, mas vai dar muito trabalho ao gênio. Não há ministério que chegue para acomodar todas as correntes e lideranças regionais do PMDB. E se houvesse, seria apenas mais munição para a luta interna. Mas há um dado que autoriza o presidente a sonhar. A disputa interna no PMDB não é mais entre os que apóiam o governo e os que preferem a oposição, como vem ocorrendo desde falência da Aliança Democrática no governo José Sarney. Temer e Jobim precisam da vitória para mostrar ao país quem pode melhor servir ao governo, como aliado no Congresso, e fazer por merecer uma fatia da Esplanada dos Ministérios. O resultado da convenção pode desvendar um dos segredos de Fátima da política brasileira: onde está a maioria, afinal, no PMDB? Lula reza para que essa maioria não apenas se revele, mas exerça de fato o comando do partido. Para satisfazer o desejo de Lula o PMDB teria de passar por uma transmutação que o deixaria mais parecido com o PT em termos de organização interna. No partido de Lula, o campo majoritário manda (e como!), mas legitima-se por compartilhar espaços e um projeto de poder com as correntes, digamos, mais à esquerda. Um PMDB organizado à maneira petista teria um presidente com autoridade, maioria na executiva e disciplina no Congresso. Dentro de casa, conviveriam o Baianismo Socialista, a Vertente Gauchesca, o Fisiologismo Marxista e outras manifestações autônomas da realidade partidária. Para isso é necessário mais que a tecnologia petista de disputa interna. É preciso um projeto de poder capaz de unir pela expecativa, como Lula uniu o PT, em sonhos, ao longo de vinte anos difíceis. Esse projeto, como os segredos de Fátima, ainda não se revelou ao mundo. Ricardo Amaral é repórter da Agência Reuters em Brasília 02.03.2007 Caros amigos e leitores. Vou tirar alguns dias de férias, para recarregar as baterias. Foi um ano duro e estou cansadíssimo. No meu lugar, ficará com vocês o jornalista Ricardo Amaral, atualmente trabalhando na agência Reuters. Amaral, um mineiro que tem mais de 20 anos de Brasília nas costas, é um repórter muito bem informado e um analista político de primeira linha. É tão bom que, no serpentário da capital federal, raramente come gato por lebre. E não perde o bom humor. Desfrutem.

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